Dificuldades com os exercícios escolares
Acredito que, para a grande maioria dos pais de crianças que estudam, os exercícios escolares representem uma fonte de preocupação das mais incômodas. É que muitas crianças se recusam a fazer o chamado “para casa”, a menos que os pais tomem certas providências.
As perguntas mais comuns feitas a esse respeito, são:
- Por que certas crianças têm tanta má vontade para fazer os exercícios de casa?
- Quando as crianças não querem estudar, devemos forçá-las a isso?
- Devemos dar presentes a uma criança quando ela fizer, sozinha, os deveres de casa?
Analisando estas perguntas, verificamos que existe um ponto comum entre elas. Ou seja, enquanto muitos pais dão um grande valor aos exercícios escolares, seus filhos já não pensam assim.
E como essas crianças devem ser tratadas para que se interessem pelo estudo?
Vou falar, mais especificamente, do significado que exercícios escolares podem ter, de acordo com a percepção de muitas pessoas (não só pais, como também certos professores).
Nas nossas escolas, todas as crianças devem levar para fazer em casa, diariamente, alguns exercícios relativos à matéria que está sendo ensinada pela professora. A finalidade primordial dessa tarefa é facilitar a aprendizagem da criança através de um parcelamento do programa. Assim, os deveres de casa constituem a maneira mais usada para proporcionar um conhecimento gradativo e crescente de tudo aquilo que se deve aprender na escola. Encarando a questão sob esse prisma, veremos que as crianças têm muito a lucrar com a confecção dos exercícios escolares. Tudo vai depender, no entanto, da maneira pela qual os pais vêem o estudo. Através de alguns exemplos, aparentemente exagerados, tentarei mostrar que a questão dos exercícios escolares não é tão simples como pode parecer.
- Os exercícios ocupam todo o tempo da criança. Muitas vezes, a criança leva tanto exercício para fazer em casa, que não lhe sobra tempo para outras atividades de seu interesse, como brincar ou assistir televisão, por exemplo. Mas, pode ocorrer, também, que certos pais, ansiosos pelo bom rendimento escolar do filho, passem a encarar os exercícios como um meio pobre e insuficiente para uma aprendizagem eficaz. Eles exigem, então, que a criança estude muito mais do que deveria, ocupando todos os seus momentos de folga. Isto é, mesmo depois de terminado o “para casa”, ela não tem permissão para fazer outra coisa, a não ser estudar. A criança quase não brinca e o cansaço pode provocar uma aversão pelos estudos.
- Os exercícios podem trazer alegria ou tristeza para a criança, sob a forma de recompensa ou castigo. Em alguns casos, a criança já está tão acostumada a exigir presentes e excesso de atenção dos pais, que o ato de estudar passa a constituir mais um pretexto para obter vantagens. E, até mesmo os exercícios escolares perdem seu valor real para significar, apenas, mais um meio que a criança utiliza para manipular os pais. De modo análogo, os exercícios podem constituir uma fonte de preocupação para a criança, já que muitos pais castigam severamente os filhos que não estudam como eles esperavam. E, o pior de tudo, é que os castigos, quando são aplicados nestas circunstâncias, geram tensão. E a tensão prejudica demais a aprendizagem.
- Os exercícios fazem com que a criança se sinta sempre avaliada. Ao invés de fazer parte de um contexto tranquilo, os exercícios provocam críticas constantes, deixando a criança insegura, pois os menores erros são ampliados, principalmente quando o adulto rotula a criança de incapaz, perdendo a paciência na hora de ensinar-lhe algo. E as observações comuns da professora (“capriche na letra”, “preste mais atenção…”) representam, para certos pais, uma verdadeira sentença para a situação de seus filhos como estudantes.
- Os exercícios trazem outras dificuldades para a criança. Pode ocorrer que ela tenha um irmão que sobressaia nos estudos e isso seja motivo de comparações e cobranças. Há casos em que os pais revivem, na hora de ajudar os filhos, velhas angústias de seu tempo de estudantes. É evidente que a hora do “para casa” não é algo desejado pela criança.
Outros exemplos poderiam ser lembrados, mas o importante é ressaltar que paciência, respeito, discernimento, capacidade de orientação e muito amor são atributos que todos nós precisamos cultivar, sobretudo quando o objetivo é tornar nossos filhos pessoas mais felizes e produtivas.
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