Falando de Psicologia … (29) – Quando uma criança gosta de brincar com fogo (II)

Quando uma criança gosta de brincar com fogo (II) 

      No artigo anterior vimos o que pode levar uma criança a querer brincar com fogo, com destaque para três características básicas: curiosidade, imitação e necessidade de chamar a atenção sobre si. Nesse artigo falarei sobre certas implicações psicológicas e maneiras de ajudar a criança que se sente muito atraída pelo fogo. O essencial, em qualquer situação, é que a criança esteja livre de perigos para os quais ainda não está preparada. Para isso, ela deve contar com a supervisão eficiente de seus pais (ou demais familiares). Porém, não basta evitar os acidentes. Existem casos em que a atração pelo fogo tem um sentido muito mais amplo que o aparente. É preciso observar em que circunstâncias a criança se utiliza do fogo – frequência com que o faz, episódios do dia que estariam relacionados com a ocorrência, quaisquer experiências desagradáveis que ela porventura tenha vivido ( se levou uma surra, se foi severamente criticada, se sofreu humilhações) e assim por diante.

Muitas vezes, a criança apresenta problemas emocionais (leves ou intensos) que dificultam seu controle, mesmo sabendo dos perigos de uma brincadeira com fogo. Assim, uma criança muito rebelde, ou muito agressiva, ou com um forte sentimento de inferioridade, pode ter um impulso de atear fogo bem mais acentuado que o de outras crianças. E nesse caso, o ato de queimar alguma coisa teria um outro significado, bem mais sério (forte impulso destrutivo, necessidade exagerada de chamar atenção, revolta e ressentimentos mais profundos). Geralmente, as crianças que se enquadram nessa categoria apresentam distúrbios de comportamento que os pais podem identificar com relativa facilidade: inapetência, irritabilidade, insônia (ou sono agitado), enurese que se prolonga após os cinco anos, dificuldades no seu relacionamento, além de outros indícios de que algo não vai bem.

Um desses distúrbios (ou mais de um), acrescido de um impulso de atear fogo que não desaparece com as medidas habituais, pode mostrar o quanto uma determinada criança está desajustada. Certamente, uma ajuda especializada se faz necessária.

O que fazer, então, quando a criança insiste em brincar com fogo? 

Proibir, castigar ou fazer ameaças são medidas que muitas pessoas utilizam, mas nem sempre os resultados são satisfatórios. Darei, a seguir, algumas sugestões de ordem prática. Devo esclarecer que vou me basear na opinião de alguns autores e na vivência que tenho tido, ao desempenhar minhas funções de mãe (e avó) e de profissional que sempre lidou com crianças dia após dia, ao longo de muitos anos de formada em Psicologia e atuando de forma ininterrupta.

Alguns exemplos de experiências positivas (e vigiadas), que os pais podem proporcionar à criança (quando a atração pelo fogo não é exagerada):

  • Ajudar a acender o fogão (a criança precisa adquirir noção de perigo e, gradativamente, ir alcançando mais autonomia).
  • Acender velas quando for necessário (quando faltar energia elétrica ou quando se queira acender as velinhas de um bolo de aniversário, ou quando se usam velas durante um momento de oração em família).
  • Ajudar a queimar uma pequena quantidade de folhas secas (ao ar livre, naturalmente).
  • Ao invés de esconder os fósforos, orientar a criança sobre os perigos de se brincar com fogo e capacitá-la de tal forma que ela saiba o que está fazendo e sinta prazer em colaborar com os pais, através do respeito aos limites por eles estabelecidos.

Enfim, se os pais perceberem que seu filho (ou filha) está precisando de mais presença e maior compreensão, seria desejável que se repensasse o quanto ainda se pode investir na qualidade de vida dessa família. E, mais uma vez, solidificar os laços afetivos tão necessários ao equilíbrio de todos e de cada um de seus membros…

 

 

 

 

6 ideias sobre “Falando de Psicologia … (29) – Quando uma criança gosta de brincar com fogo (II)

  1. Bom dia! Achei de uma qualidade incrível a sua publicação. Tenho um filho de 11 anos que participou de dois episódios produzindo fogo. Um desses locais foi na escola dentro da sala de aula. Eu realmente estou muito preocupada.

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