Falando de Psicologia… (5)

Tiques e seus significados

 

Piscar os olhos, encolher os ombros, fungar ou fazer caretas são gestos comuns. Mas quando se tornam repetitivos e despropositados assumem a forma de tiques. Em geral processados de forma inconsciente, os chamados tiques nervosos não dão trégua no período de vigília e só desaparecem durante o sono. O que está por trás desses movimentos sem ritmo, repetidos com frequência e sem motivo aparente?

Sabe-se que a incidência é maior durante a infância e a adolescência, podendo ter início por volta dos quatro anos, atingindo mais os meninos do que as meninas (numa proporção de três meninos para cada menina). Sendo mais frequentes na face, no pescoço e nos ombros, os tiques podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive nos músculos respiratórios, aparecendo sob a forma de tosse ou pigarro, e nos músculos da expressão vocal, quando a pessoa passa a emitir ruídos diversos. Pesquisas revelam que a maioria dos tiques desaparece com o tempo (duram menos de um ano), não comprometendo a fase adulta. Estes são os chamados tiques simples transitórios, que atingem cerca de 5 a 25 por cento da população de crianças e adolescentes. No entanto, é muito importante esclarecer a origem de tudo isso, pois há casos em que os tiques (mais complexos) nem sempre são transitórios e podem estar ligados a uma doença neurológica, conhecida como síndrome de Tourette, muitas vezes associada a certos transtornos da conduta. As manifestações comportamentais mais frequentes são o transtorno obsessivo-compulsivo(TOC), a hiperatividade e o déficit de atenção, assim como a falha no controle dos impulsos. É imprescindível que a criança seja avaliada por um neurologista infantil, visando os procedimentos adequados a cada caso. Também é de muita valia a consulta feita ao especialista em psiquiatria infantil.

Quanto aos tiques mais simples, calcula-se que uma em cada dez crianças manifeste um tique, pelo menos durante algum período, nos seus primeiros dez anos de vida. Quais seriam as causas e como ajudar tais crianças?

Geralmente, quando a criança vive momentos que são sentidos como fonte de ansiedade e stress, ela tem tendência a somatizar esses sentimentos, isto é, a exteriorizar as suas emoções através do corpo, ou então apresenta mudanças no comportamento. Assim, podemos encontrar alguns sintomas típicos: dores persistentes e diversas; problemas no sono e na conduta alimentar; taquicardia; reaparecimento de medos; choro e pouca tolerância às frustrações; dificuldade de concentração e cansaço; queda no rendimento escolar; comportamentos contraditórios e incompreensíveis e o aparecimento de tiques. A entrada para a escola (ou mudança de escola) é um exemplo de uma situação que pode gerar stress para algumas crianças. Mas existem muitos outros como: problemas familiares diversos, ausência de um dos pais (ou de ambos), experiências traumatizantes (acidentes, assalto etc.), alguns acontecimentos mundiais (guerra, atentados terroristas, catástrofes, como terremotos ou inundações, enfim, fatos que são muito focalizados pela mídia). Todas essas situações podem ser assustadoras para as crianças, deixando-as alarmadas e inseguras. Por isso mesmo, é essencial que alguém as tranquilize e lhes explique os acontecimentos. É bom ressaltar que existe uma correlação entre a intensidade do tique (ou a conjunção de vários tiques) e o grau de ansiedade sofrida pela criança.

Existem casos em que a conduta dos pais é fator decisivo no aparecimento de tiques. Principalmente quando a criança é muito cerceada ou reprimida em suas necessidades mais primárias, como correr, jogar bola, falar o que pensa ou sente, enfim, ser ela mesma. O excesso de zelo ou de cobranças pode gerar tamanho nível de tensão que, não sabendo lidar com tudo isso, a criança, num primeiro momento, tenta chamar a atenção dos pais. Não sendo atendida por eles, a angústia pode buscar uma válvula de escape através dos tiques. E como a criança não tem consciência disso, fica muito difícil superar suas dificuldades sem uma ajuda externa. É importante buscar uma avaliação psicológica (onde talvez se indique uma psicoterapia), pois a auto-estima da criança costuma ser bastante atingida pelas críticas que várias pessoas fazem a quem tem tiques.

Pais e demais adultos que lidam com a criança podem tentar minimizar as situações de stress que ela enfrenta, além de ajudá-la a encontrar uma forma de extravasar suas tensões (a prática de esportes pode ser uma boa alternativa).

Enfim, paciência, diálogo e, claro, muito carinho são as atitudes que devem ser tomadas pelos familiares e professores, lembrando sempre que a criança não faz de propósito, já que os tiques independem de sua vontade. Em se tratando de adolescentes ou adultos portadores de tiques, as sugestões de encaminhamento são as mesmas: avaliações devem ser feitas por um especialista ou mais de um (médico ou psicólogo).

 

4 ideias sobre “Falando de Psicologia… (5)

  1. Muito interessante e oportuno este texto, pois o que não faltam são fatores estressantes no mundo de hoje, tanto para as crianças quanto para nós adultos!

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