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Falando de Psicologia (7) …Matemática e Tecnologia Digital.

Matemática x Tecnologia Digital 

Por que certas crianças e adolescentes têm tanta facilidade para navegar na internet e, ao mesmo tempo, sentem dificuldade para aprender Matemática?

Para responder a esta pergunta, é necessário tecer comentários sobre as duas situações.

As crianças, ainda muito novas, aprendem através da imitação das atitudes dos adultos que convivem com elas. Sendo assim, ao verem seus pais utilizando, com frequência, toda a tecnologia digital (celulares, tablets, computadores), ficam logo interessadas. E muitas crianças, ainda bebês, começam logo a deslizar o dedinho sobre a tela, para alegria dos familiares!

Podemos destacar alguns fatores que contribuem para o bom desempenho do indivíduo (na infância e/ou na adolescência), no que se refere à tecnologia digital. Por exemplo:

  • Curiosidade natural, sobretudo entre as crianças menores.
  • Aspectos lúdicos e atraentes dos conteúdos disponíveis para crianças e adolescentes (vídeos bem coloridos e animados, joguinhos desafiadores, filmes que agradam bastante, músicas bonitas etc).
  • Facilidade de aprendizado (através de um simples toque a criança começa a interagir praticamente sozinha).
  • A relação com a internet pode ser prioritariamente lúdica, para crianças, adolescentes e adultos. Isso faz com que o indivíduo – de qualquer faixa etária – volte ao que esteve fazendo antes (vendo um filminho, jogando, digitando mensagens ou textos e assim por diante). Em outras palavras, a tecnologia digital oferece uma forma prazerosa de aprender!
  • Através da tecnologia digital, é possível participar de jogos interativos, pesquisas escolares, ter interação com os colegas e muito mais! E, com tudo isso, o mundo virtual torna-se irresistível para crianças e adolescentes!

No aprendizado de qualquer assunto ou matéria, é muito importante que se possa encontrar um aspecto que atraia o interesse da pessoa envolvida. No caso de um estudante – e especificamente em se tratando de alunos de Matemática – alguns fatores também podem ser citados. Como por exemplo:

  • É desejável que se introduzam as noções de Matemática de uma forma lúdica.
  • Sabemos que muitas pessoas declaram sua aversão por Matemática e esse estereótipo pode influenciar, negativamente, crianças e adolescentes. Sendo assim, o papel dos pais costuma ser decisivo no que se refere ao interesse dos filhos pela Matemática.
  • Segundo meu neto mais velho – Gabriel, que tem 20 anos e é universitário de Engenharia Civil – não se pode encarar o estudo de Matemática como o estudo das outras matérias. Ou seja, é indispensável praticar bastante, pois só a teoria não basta! Quanto maior for o estudo através de inúmeros exercícios, maior será a chance de um bom aprendizado em Matemática! “É preciso entender bem os exercícios e fazer muitos outros, até fixar bem. Na prova, esse cuidado da repetição vai ajudar muito! Aprender e fazer n exercícios! Nas outras matérias é só entender! Para uma prova de Cálculo eu faço umas 40 páginas de exercícios! Entendendo bem os conteúdos e treinando bastante, a gente passa a gostar da matéria!” – afirma o Gabriel.
  • Os conteúdos de Matemática são interdependentes e, por isso mesmo, uma pessoa não pode aprender bem, pulando etapas.
  • O bom desempenho em Matemática implica em ter boa concentração. Portanto, o aluno precisa estar muito atento, sempre!
  • O papel do(a) professor(a) é de suma importância! Se ele(ela) souber conquistar os alunos através de uma boa didática e interesse genuíno pela capacitação da turma, certamente haverá mais possibilidade de êxito na sua árdua e fascinante tarefa de ensinar!

Em seus estudos de Neurociências e Matemática, Whyte e Bull (2008) demonstraram que as crianças e adolescentes que se interessam por videogames têm mais possibilidade de compreender melhor o universo dos números.

Para concluir, eu diria que os recursos de imagem, sons, grafismos, textos – atraem a atenção de crianças cada vez mais jovens e permitem, com facilidade de utilização, um aprendizado adaptado às diferentes capacidades, ritmos e estilos das crianças (e adolescentes). Tais recursos podem ser uma excelente ferramenta para o aprendizado dos conteúdos não só de Matemática, mas de quaisquer disciplinas de um currículo, seja ele escolar ou universitário!

E, finalmente, quero esclarecer que não cabem aqui, considerações ou análises sobre aspectos nocivos ou patológicos que por ventura estejam envolvidos no tema de hoje. Como psicoperapeuta, eu teria que dedicar um espaço muito maior para a abordagem de questões mais profundas. E um blog não se prestaria a isso!

 

 

Falando de Psicologia… (6)

O que vem a ser enurese?

A palavra enurese significa falta de controle sobre o ato de urinar, podendo ocorrer durante o dia (enurese diurna), ou durante a noite (enurese noturna).

O controle sobre a emissão da urina, assim como o controle do intestino, está relacionado com o desenvolvimento total da criança. A partir do nascimento, começam a se desenvolver certas funções do organismo. Assim, nos primeiros meses, a criança é capaz de levantar a cabeça e isso resulta de um desenvolvimento dos músculos do pescoço e de um controle sobre estes músculos. Depois, ela é capaz de sentar-se, o que resulta do desenvolvimento de vários músculos do abdômen, das costas, das pernas. E esse desenvolvimento muscular vai progredindo até que a criança seja capaz de engatinhar e andar.

Da mesma forma, os músculos da bexiga vão se desenvolvendo e ficando sob controle. Quando esse amadurecimento se completa, a criança é capaz de controlar a emissão da urina. Tudo isso envolve, também, uma participação dos nervos que vão até a bexiga. Por volta dos dois anos de idade, a maioria das crianças completou esse amadurecimento. Em primeiro lugar aparece o controle diurno e, depois, o noturno. Entretanto, algumas crianças se atrasam um pouco. Só vão conseguir o controle diurno aos três e o noturno aos quatro, ou mesmo aos cinco anos. A conclusão que nós podemos tirar daí é que se torna infrutífero insistir para que uma criança não urine na roupa ou na cama, antes da época em que se completou o seu desenvolvimento. Um bom critério para se saber se tal amadurecimento foi alcançado por uma dada criança, é verificar se ela consegue manter sua roupa seca por um período maior. Por exemplo, durante o sono diurno, ou quando está brincando, ou quando sai de casa. Se ela consegue, isso é sinal de que está preparada para receber os estímulos ou os ensinamentos para conseguir um controle cada vez maior. De um modo geral, por volta dos dezoito meses o bebê começa a ter noção do que representa molhar a fralda e algum treinamento já pode ter início, com muita paciência e carinho.

Por que algumas crianças continuam com enurese noturna depois dos cinco anos?

Existe uma infinidade de razões para que isso aconteça. Vejamos algumas.

Uma das mais significativas se refere à exigência que muitas mães fazem a seus filhos para que controlem a emissão de urina, mesmo que eles não estejam preparados para isso. E elas procuram justificar essa exigência de várias maneiras: para que seus filhos sejam mais limpos e disciplinados, para que outras pessoas não possam criticá-los, para mostrar que eles aprendem com rapidez, para provar que eles são adiantados para a idade, e assim por diante. Estas coisas acabam por confundir a criança, pois ela não entende seus significados, nem tem condições fisiológicas para corresponder às expectativas da mãe. Instala-se, com frequência, uma ansiedade que é canalizada para as vias urinárias. O controle, então, ficará prejudicado, mesmo que os músculos da bexiga já estejam desenvolvidos. O resultado, portanto, é uma enurese de causa psicológica.

Um outro caso em que a enurese não é superada na devida época é aquele em que a criança tem uma ansiedade por motivos diferentes dos citados e que, por razões ainda não explicadas pela psicologia, essa ansiedade é canalizada para as vias urinárias, bem como para outros sistemas ou órgãos. Dificuldades na escola, ciúmes de um irmão, sentimento de não ser amada pelos pais, são algumas das causas mais prováveis para que essa ansiedade apareça. Também nesses casos a enurese noturna permanece por mais tempo, embora os músculos da bexiga já estejam desenvolvidos.

Uma recomendação muito importante é que se faça uma avaliação com o neuropediatra, antes mesmo de se procurar o psicólogo, pois devem ser afastadas quaisquer possibilidades de um comprometimento orgânico.

 

 

 

Falando de Psicologia… (5)

Tiques e seus significados

 

Piscar os olhos, encolher os ombros, fungar ou fazer caretas são gestos comuns. Mas quando se tornam repetitivos e despropositados assumem a forma de tiques. Em geral processados de forma inconsciente, os chamados tiques nervosos não dão trégua no período de vigília e só desaparecem durante o sono. O que está por trás desses movimentos sem ritmo, repetidos com frequência e sem motivo aparente?

Sabe-se que a incidência é maior durante a infância e a adolescência, podendo ter início por volta dos quatro anos, atingindo mais os meninos do que as meninas (numa proporção de três meninos para cada menina). Sendo mais frequentes na face, no pescoço e nos ombros, os tiques podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive nos músculos respiratórios, aparecendo sob a forma de tosse ou pigarro, e nos músculos da expressão vocal, quando a pessoa passa a emitir ruídos diversos. Pesquisas revelam que a maioria dos tiques desaparece com o tempo (duram menos de um ano), não comprometendo a fase adulta. Estes são os chamados tiques simples transitórios, que atingem cerca de 5 a 25 por cento da população de crianças e adolescentes. No entanto, é muito importante esclarecer a origem de tudo isso, pois há casos em que os tiques (mais complexos) nem sempre são transitórios e podem estar ligados a uma doença neurológica, conhecida como síndrome de Tourette, muitas vezes associada a certos transtornos da conduta. As manifestações comportamentais mais frequentes são o transtorno obsessivo-compulsivo(TOC), a hiperatividade e o déficit de atenção, assim como a falha no controle dos impulsos. É imprescindível que a criança seja avaliada por um neurologista infantil, visando os procedimentos adequados a cada caso. Também é de muita valia a consulta feita ao especialista em psiquiatria infantil.

Quanto aos tiques mais simples, calcula-se que uma em cada dez crianças manifeste um tique, pelo menos durante algum período, nos seus primeiros dez anos de vida. Quais seriam as causas e como ajudar tais crianças?

Geralmente, quando a criança vive momentos que são sentidos como fonte de ansiedade e stress, ela tem tendência a somatizar esses sentimentos, isto é, a exteriorizar as suas emoções através do corpo, ou então apresenta mudanças no comportamento. Assim, podemos encontrar alguns sintomas típicos: dores persistentes e diversas; problemas no sono e na conduta alimentar; taquicardia; reaparecimento de medos; choro e pouca tolerância às frustrações; dificuldade de concentração e cansaço; queda no rendimento escolar; comportamentos contraditórios e incompreensíveis e o aparecimento de tiques. A entrada para a escola (ou mudança de escola) é um exemplo de uma situação que pode gerar stress para algumas crianças. Mas existem muitos outros como: problemas familiares diversos, ausência de um dos pais (ou de ambos), experiências traumatizantes (acidentes, assalto etc.), alguns acontecimentos mundiais (guerra, atentados terroristas, catástrofes, como terremotos ou inundações, enfim, fatos que são muito focalizados pela mídia). Todas essas situações podem ser assustadoras para as crianças, deixando-as alarmadas e inseguras. Por isso mesmo, é essencial que alguém as tranquilize e lhes explique os acontecimentos. É bom ressaltar que existe uma correlação entre a intensidade do tique (ou a conjunção de vários tiques) e o grau de ansiedade sofrida pela criança.

Existem casos em que a conduta dos pais é fator decisivo no aparecimento de tiques. Principalmente quando a criança é muito cerceada ou reprimida em suas necessidades mais primárias, como correr, jogar bola, falar o que pensa ou sente, enfim, ser ela mesma. O excesso de zelo ou de cobranças pode gerar tamanho nível de tensão que, não sabendo lidar com tudo isso, a criança, num primeiro momento, tenta chamar a atenção dos pais. Não sendo atendida por eles, a angústia pode buscar uma válvula de escape através dos tiques. E como a criança não tem consciência disso, fica muito difícil superar suas dificuldades sem uma ajuda externa. É importante buscar uma avaliação psicológica (onde talvez se indique uma psicoterapia), pois a auto-estima da criança costuma ser bastante atingida pelas críticas que várias pessoas fazem a quem tem tiques.

Pais e demais adultos que lidam com a criança podem tentar minimizar as situações de stress que ela enfrenta, além de ajudá-la a encontrar uma forma de extravasar suas tensões (a prática de esportes pode ser uma boa alternativa).

Enfim, paciência, diálogo e, claro, muito carinho são as atitudes que devem ser tomadas pelos familiares e professores, lembrando sempre que a criança não faz de propósito, já que os tiques independem de sua vontade. Em se tratando de adolescentes ou adultos portadores de tiques, as sugestões de encaminhamento são as mesmas: avaliações devem ser feitas por um especialista ou mais de um (médico ou psicólogo).

 

Falando de Psicologia… (4)

 

Encontros e desencontros

 

Com muita frequência recebo queixas de pessoas que se sentem pouco valorizadas ou incompreendidas, simplesmente por não serem ouvidas como gostariam. Há jovens que dizem: “meus pais não me entendem, eu falo uma coisa e eles entendem outra”. Adultos reclamam do relacionamento conjugal, ressaltando a “falta de diálogo”. Crianças se ressentem pelo pouco tempo dos pais, para conversar e ficar mais em casa. Outros sentem necessidade de desabafar, mas seus amigos se mostram insensíveis a isso. Observo que em cada um desses casos ocorre uma espécie de desencontro, uma falta de sintonia que pode gerar desentendimentos.

Hoje quero abordar dois aspectos importantes dessa questão: saber ouvir e ter empatia. Saber ouvir é cultivar a difícil arte da empatia, que é a habilidade de se colocar no lugar do outro, percebendo e compreendendo seus sentimentos. “Saber ouvir transcende o ato de escutar; é compreender a pessoa que se expressa; é entender a mensagem que ela transmite; é assimilar o que é comunicado por palavras, atitudes, gestos ou silêncio; é perceber a grandeza da comunicação e do diálogo; é alcançar a plenitude do relacionamento humano” (segundo o jornalista Gustavo Gomes de Matos em seu livro “A cultura do diálogo”).

O termo empatia (do grego empatheia, que significa “entrar no sentimento”) foi utilizado pela primeira vez pelo psicólogo E. B. Titchener (1867 – 1927). A empatia é um requisito indispensável para a prática da psicoterapia. É preciso ter uma percepção do mundo do outro como se fosse o seu próprio, o que contribui para o aumento da auto-estima, pois a pessoa sente que é importante e que seus sentimentos são devidamente considerados. Muitas vezes a empatia é o que ela mais necessita no momento, sobretudo quando não encontra essa compreensão no ambiente familiar.

Empatia começa com a capacidade de estar bem consigo mesmo, de perceber e aceitar as características da própria personalidade. Pessoas com dificuldade de entender o outro, demonstram que também não receberam compreensão em suas necessidades e sentimentos no transcorrer da vida. Se não tiveram suas necessidades supridas, certamente encontrarão dificuldade em entender e atender as necessidades alheias.

O escritor Rubem Alves assim se expressa sobre a arte de saber ouvir: “De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver junto e da cidadania é a audição. Diz a Escritura Sagrada: ‘No princípio era o verbo’. Eu acrescento: ‘Antes do verbo era o silêncio.’ É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra, se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio.”

Se estivermos comprometidos com o ensinamento de Jesus “amai-vos uns aos outros”, teremos mais facilidade em ouvir com paciência, com interesse, com atenção, com consideração, com humildade e com sabedoria. Em outras palavras, conseguiremos ouvir com amor qualquer pessoa que esteja necessitando de uma verdadeira acolhida.

Para finalizar, gostaria de sugerir algumas atitudes que facilitam o bom entendimento.

  • Em se tratando de relacionamento pais e filhos, na medida do possível seria bom reservar um tempo para conversar sobre o dia a dia de cada um, com todo o cuidado para entender profundamente o que o outro quer dizer e, principalmente, o que está sentindo. Dessa maneira os interlocutores demonstram respeito e apreço, uns pelos outros.
  • Quando as mulheres falam sobre suas dificuldades, os homens geralmente resistem, partindo do pressuposto de que serão acusados de causar tais problemas. Muitos não se dão conta de que elas se sentem bem só de serem ouvidas e compreendidas em seus anseios.
  • É preciso colocar o sentimento à frente das palavras. Quem precisa de um desabafo deve, também, respeitar o momento que o outro está vivendo, pois nem sempre isso coincide com a necessidade e a urgência de quem quer ser ouvido.
  • Em síntese, uma comunicação satisfatória requer uma boa sintonia de todas as partes envolvidas.

 

 

 

 

 

Falando de Psicologia… (3)

Quando a criança tem tudo, mas não se sente feliz…

 

Hoje em dia é comum encontrarmos crianças com uma “agenda” cheia de compromissos. Há casos em que falta até mesmo tempo para a criança brincar, ou simplesmente para ficar em casa, descansando. É verdade que se deve investir na formação global de cada filho. Porém, suas necessidades emocionais não podem ser negligenciadas. Assim, torna-se indispensável acompanhar o dia a dia da criança, ouvindo-a com atenção e tentando avaliar se ela está feliz, ou não.

Tenho observado que entre as crianças na faixa etária que vai dos sete aos doze anos, muitas se sentem solitárias, insatisfeitas e até mesmo infelizes, embora recebam muito dos pais, pelo menos no que diz respeito aos aspectos materiais. Para elucidar esse ponto de vista, vou relatar um episódio que acompanhei de perto, há algum tempo…

Um menino de quase oito anos surpreendeu o pai, na saída da escola, mantendo com ele o seguinte diálogo:

“Que bom, pai, que essa semana você vem me buscar no colégio e ainda vai poder ficar muito tempo comigo, quando a gente chegar em casa”.

“Você está com saudade do papai?”.

“Não é só isso. É que eu quase não conheço você… Eu não sei qual é a sua cor favorita, não sei qual alimento você prefere, se você tem medo de alguma coisa… A gente não fala dessas coisas, não é, pai?”

“Eu acho que você está repetindo alguma coisa da televisão, pois eu te dou tudo que você quer. De onde você tirou essas ideias?”

“Da minha cabeça, pai. Você podia conversar mais comigo…”

 

Bem, o pai conversou muito com o menino e os dois realmente precisavam se conhecer melhor.

Percebo que muitos pais são pessoas maravilhosas e até se dispõem a mudar de atitude, quando orientados. O que ocorre, em muitos casos, é que certas crianças com idade entre sete e doze anos são independentes em muitos pontos (na higiene pessoal, na hora de fazer o dever de casa, nas brincadeiras etc.). Fica parecendo que elas podem “se virar” sozinhas e que nada lhes falta. Principalmente quando todos (pais e filhos) passam o dia envolvidos com muitas atividades, sem tempo para trocar confidências, expressar afeto, estreitar os seus laços familiares…

É fácil concluirmos que novamente o bom senso não pode faltar. Ao lado de uma boa bagagem cultural, nada melhor que uma sólida bagagem afetiva. Nossos filhos merecem que a “agenda” de cada um (pai, mãe ou filho) seja estruturada de forma harmoniosa e equilibrada. Certamente os frutos serão colhidos por todos, mais cedo ou mais tarde.

 

 

 

Falando de Psicologia… e Fé.

Vocação tem a ver com felicidade?

 

   Qualquer pessoa sabe da importância de se sentir bem no desempenho de uma tarefa. Muitas vezes até surgem comentários do tipo: “isso foi feito com muito amor”, “eu amo o que faço” e assim por diante.

    Do ponto de vista psicológico, faz sentido associarmos a ideia de felicidade ao trabalho realizado por amor. E do ponto de vista da fé, podemos lembrar as palavras de Jesus, quando nos ensina a amar nosso próximo como a nós mesmos. O serviço bem feito também é uma forma de expressarmos o nosso afeto e a nossa consideração pelo outro.

   Um exemplo de determinação e de amor é, sem dúvida, o de Madre Teresa de Calcutá.

   Conta-se que, uma vez, ela pediu um conselho ao seu confessor a respeito da própria vocação, perguntando como poderia saber se Deus a estava chamando e para que Ele a estava chamando. O confessor respondeu: “Você saberá por intermédio da sua felicidade. Se estiver feliz com a ideia de que Deus a chama para servi-Lo e a seu próximo, essa será a prova de sua vocação. O contentamento profundo do coração é como uma bússola que indica a estrada da vida. É preciso segui-la, ainda que você entre por um caminho cheio de dificuldades”.

   O cardeal D. Eusébio Scheid, arcebispo da arquidiocese do Rio de Janeiro, descreve bem a vocação ligada à ideia de amor, quando afirma: “Definitivamente, não se realiza quem não ama com o amor de Deus. Não descobre sua vocação quem não descobriu o amor. Não será feliz quem pensa só em si e deixa de lado as preciosas atitudes de generosidade, gratidão e amor a Deus e ao próximo. Pelo contrário, enxerga com clareza onde está sua vocação (no ministério sacerdotal, no matrimônio, na vida consagrada, na vida profissional…) quem ama o Senhor e tudo o que Ele nos dá. O amor de Deus, em nós, vai desvendando os caminhos que devemos percorrer para que os desígnios divinos se cumpram”.

   Confúcio, professor, filósofo e teórico político chinês disse: “Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida”.

   Ele, naturalmente, quis dizer que, se alguém escutar seu chamamento interior e atendê-lo, sua tarefa lhe será leve, resultando em alegria e satisfação pessoal, sem aquela conotação de algo penoso, difícil de suportar.

   Peço licença para relatar algo que aconteceu comigo, nos primeiros anos de formada em Psicologia. Um dia, ao chegar da clínica onde meu marido e eu éramos sócios (ele era psiquiatra e ambos atuávamos como psicoterapeutas), começamos a conversar e, num dado momento ele me disse mais ou menos essas palavras: “Fico impressionado com a maneira com que você vive o seu trabalho. A julgar pela leveza com que chega em casa, mais parece que você encontrou um hobby, só que vivido com muita responsabilidade. A sua alegria chega a me contagiar…” Esse fato me marcou tanto, que nunca mais o esqueci. Peço a Deus que eu consiga viver de tal forma que, a cada dia, eu possa atender à minha “voz interior”, mas que esse chamamento esteja em sintonia com aquilo que Deus espera de mim. Que eu possa, no final da minha vida, me sentir como no poema “Mãos postas”, de Dom Helder Câmara, onde ele mostra um desejo grande de se sentir como duas mãos que se unem em oração: uma representando a vida que levamos, a outra representando o plano de Deus para nós. Se elas se sobrepõem harmoniosamente, podemos imaginar que conseguimos ouvir o chamamento divino e que valeu a pena prestarmos atenção à voz do Pai…

Quero finalizar, citando um pequeno trecho do livro “Espiritualidade a partir de si mesmo”, dos beneditinos Anselm Grün e Meinrad Dufner: “… Deus não nos fala unicamente através da Bíblia e da Igreja, mas também através de nós mesmos, daquilo que nós pensamos e sentimos, através do nosso corpo, de nossos sonhos, e ainda através de nossas feridas e de nossas supostas fraquezas…”

 

Falando de Psicologia…

Vencendo a indisciplina

 

     Disciplina é uma palavra que tem a mesma etimologia de “discípulo”, que significa “aquele que segue”.  Autodisciplina é a habilidade de aderir a ações, pensamentos e comportamentos que resultem em crescimento pessoal. Sendo assim, para que alguém utilize bem seus dons intelectuais e possa atingir diferentes metas, é muito importante que se organize através de uma boa autodisciplina.

Como psicoterapeuta tenho encontrado diversas pessoas que, mesmo sendo muito inteligentes, sofrem por não conseguir atingir seus objetivos: concluir tarefas ou cursos, dar continuidade ao programa de emagrecimento, fazer exercícios físicos com regularidade, manter seus armários arrumados, comparecer aos compromissos no horário marcado etc. Tais pessoas muitas vezes se culpam, o que acaba por interferir na sua autoestima e na sua tranquilidade.

Por que certas pessoas se mostram tão indisciplinadas?

Existem casos em que a desorganização teve início na infância. Crianças superprotegidas se mostram imaturas e dependentes, o que pode levar a comportamentos impregnados de instabilidade e indisciplina. Há, também, casos de crianças que foram tão exigidas que, na primeira oportunidade tentam fazer exatamente o oposto daquilo que tanto lhes impuseram.

Há muitos adolescentes e adultos que não sabem exatamente o que querem. Ficam entusiasmados com alguma novidade, mas dentro de pouco tempo abandonam o que iniciaram com a maior empolgação. Ouvem críticas e se sentem muito mal (consigo mesmos e com os outros). Ou então, se mostram influenciados por algum modismo ou por pessoas a quem admiram. Sem aptidão ou sem constância para dar prosseguimento ao novo desafio (aprender um idioma ou aprender a tocar um instrumento, por exemplo), ocorre a desistência e isso acarreta desdobramentos bastante desconfortáveis para o indivíduo (sensação de incompetência ou de inferioridade; medo de enfrentar situações novas e abandoná-las; fuga da realidade; angústia). Focalizando o tema de uma forma bastante simplista, há pessoas que consideram a disciplina algo negativo, que se traduziria por falta de liberdade para fazer aquilo que lhes pareça mais fácil. E assim vão criando desculpas e pretextos para o descumprimento de seus objetivos.

O que fazer para vencer a indisciplina?

Embora muita gente acredite que a disciplina seja um dom, sabe-se hoje que disciplina se aprende. Vejamos alguns pontos que merecem uma reflexão:

  • Autoconhecimento. Pare e pense sobre o que você realmente gostaria de fazer. Anote tudo e avalie se está disposto a dar continuidade (por exemplo, se deseja emagrecer, procure um médico ou um nutricionista e se disponha a seguir tudo com responsabilidade e até com bom humor, sem sabotar sua dieta).
  • Comece por estabelecer pequenas metas. Ao atingi-las, você ficará motivado a alcançar objetivos mais desafiadores.
  • Aja com determinação, mas sem exageros. Assim você poderá concretizar seus propósitos e ainda mantê-los pelo tempo necessário.
  • Faça as pazes consigo mesmo. Sentir-se vitorioso sobre seus impulsos já é uma grande conquista!

 

Muito sucesso em suas tentativas, quaisquer que sejam suas metas!!!