A criança que é alvo de compaixão
Muitas pessoas manifestam sentimentos de simpatia e compaixão por uma criança através de expressões como: “coitadinha, é tão pequena ainda”, ou “pobrezinho do meu filho”, ou simplesmente: “coitadinho dele”. Não resta dúvida de que tais palavras são ditas, quase sempre, em tom carinhoso e protetor. Mas, também é certo que podem influenciar negativamente a criança que as recebe.
O sentimento de pena ou compaixão pode surgir em circunstâncias bem diferentes. No entanto, o que caracteriza melhor seu aparecimento, no adulto, é o fato da criança estar enfrentando alguma dificuldade. Exemplos de situações que despertam compaixão:
- Quando a criança sofre alguma decepção (ser reprovada na escola, por exemplo).
- Quando a criança adoece ou sofre algum acidente.
- Quando a criança é portadora de necessidades especiais.
- Quando a criança não é filha biológica (muitos pais adotivos costumam sentir pena excessiva do filho, como se ele fosse uma criança diferente das outras).
- Quando a criança passa por alguma experiência de perda (separação dos pais, morte de um ente querido etc.).
Embora o sentimento de compaixão venha acompanhado de carinho e possa até ser visto como expressão de afeto, isso não representa uma ajuda à criança. É que, ao expressar pena excessiva, uma pessoa pode comunicar outros elementos, como por exemplo: falta de confiança, por parte do adulto, na capacidade da criança em suportar decepções ou enfrentar dificuldades; insegurança; medo; desânimo; necessidade de receber apoio constante; imaturidade; sentimento de inferioridade etc.
Como era de se esperar, tudo isso acaba por trazer consequências negativas ao comportamento da criança.
O que pode acontecer, então, quando alguém, (com muita frequência) demonstra ter pena exagerada de uma criança?
- A criança passa a acreditar que é digna de pena, realmente.
- Torna-se incapaz de encarar os fatos como são, na realidade.
- A criança torna-se mais exigente, como se precisasse ser compensada daquilo que sofreu.
- A criança torna-se cada vez mais vulnerável às frustrações, podendo se esquivar de enfrentar situações novas. Mesmo que se sinta atraída por elas (como é o caso de crianças que se recusam a ir a uma festa, ou a uma competição qualquer).
- A criança passa a depender dos outros, quando poderia se defender sozinha.
- A criança passa a se considerar diferente das outras, adquirindo valores e expectativas falsos ou inadequados.
- A criança torna-se socialmente desajustada, pois sua atenção está inteiramente voltada para si mesma.
- A criança torna-se passiva e triste.
Tendo em vista a variedade de transtornos que uma compaixão excessiva pode ocasionar à criança, vejamos agora o que vale como recomendação:
- Em qualquer circunstância, devemos substituir compaixão e atenção excessivas por simpatia e estímulo.
- Demonstrar pena não significa expressar mais amor. É possível amar uma criança sem revelar que sentimos pena dela, por mais difícil que isso possa nos parecer.
- Devemos encorajar uma criança a se sentir gratificada quando consegue vencer suas dificuldades.
- Em caso de doença, podemos satisfazer as necessidades da criança (decorrentes da enfermidade) e ajudá-la a suportar o sofrimento, indicando-lhe alternativas para superar os problemas surgidos.
- Em síntese, seja qual for o motivo que nos leve a sentir pena de uma criança, é imprescindível dar-lhe apoio, compreensão e carinho, ao mesmo tempo em que estimulamos sua capacidade e autonomia para lidar com situações adversas.
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