Encontros e desencontros
Com muita frequência recebo queixas de pessoas que se sentem pouco valorizadas ou incompreendidas, simplesmente por não serem ouvidas como gostariam. Há jovens que dizem: “meus pais não me entendem, eu falo uma coisa e eles entendem outra”. Adultos reclamam do relacionamento conjugal, ressaltando a “falta de diálogo”. Crianças se ressentem pelo pouco tempo dos pais, para conversar e ficar mais em casa. Outros sentem necessidade de desabafar, mas seus amigos se mostram insensíveis a isso. Observo que em cada um desses casos ocorre uma espécie de desencontro, uma falta de sintonia que pode gerar desentendimentos.
Hoje quero abordar dois aspectos importantes dessa questão: saber ouvir e ter empatia. Saber ouvir é cultivar a difícil arte da empatia, que é a habilidade de se colocar no lugar do outro, percebendo e compreendendo seus sentimentos. “Saber ouvir transcende o ato de escutar; é compreender a pessoa que se expressa; é entender a mensagem que ela transmite; é assimilar o que é comunicado por palavras, atitudes, gestos ou silêncio; é perceber a grandeza da comunicação e do diálogo; é alcançar a plenitude do relacionamento humano” (segundo o jornalista Gustavo Gomes de Matos em seu livro “A cultura do diálogo”).
O termo empatia (do grego empatheia, que significa “entrar no sentimento”) foi utilizado pela primeira vez pelo psicólogo E. B. Titchener (1867 – 1927). A empatia é um requisito indispensável para a prática da psicoterapia. É preciso ter uma percepção do mundo do outro como se fosse o seu próprio, o que contribui para o aumento da auto-estima, pois a pessoa sente que é importante e que seus sentimentos são devidamente considerados. Muitas vezes a empatia é o que ela mais necessita no momento, sobretudo quando não encontra essa compreensão no ambiente familiar.
Empatia começa com a capacidade de estar bem consigo mesmo, de perceber e aceitar as características da própria personalidade. Pessoas com dificuldade de entender o outro, demonstram que também não receberam compreensão em suas necessidades e sentimentos no transcorrer da vida. Se não tiveram suas necessidades supridas, certamente encontrarão dificuldade em entender e atender as necessidades alheias.
O escritor Rubem Alves assim se expressa sobre a arte de saber ouvir: “De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver junto e da cidadania é a audição. Diz a Escritura Sagrada: ‘No princípio era o verbo’. Eu acrescento: ‘Antes do verbo era o silêncio.’ É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra, se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio.”
Se estivermos comprometidos com o ensinamento de Jesus “amai-vos uns aos outros”, teremos mais facilidade em ouvir com paciência, com interesse, com atenção, com consideração, com humildade e com sabedoria. Em outras palavras, conseguiremos ouvir com amor qualquer pessoa que esteja necessitando de uma verdadeira acolhida.
Para finalizar, gostaria de sugerir algumas atitudes que facilitam o bom entendimento.
- Em se tratando de relacionamento pais e filhos, na medida do possível seria bom reservar um tempo para conversar sobre o dia a dia de cada um, com todo o cuidado para entender profundamente o que o outro quer dizer e, principalmente, o que está sentindo. Dessa maneira os interlocutores demonstram respeito e apreço, uns pelos outros.
- Quando as mulheres falam sobre suas dificuldades, os homens geralmente resistem, partindo do pressuposto de que serão acusados de causar tais problemas. Muitos não se dão conta de que elas se sentem bem só de serem ouvidas e compreendidas em seus anseios.
- É preciso colocar o sentimento à frente das palavras. Quem precisa de um desabafo deve, também, respeitar o momento que o outro está vivendo, pois nem sempre isso coincide com a necessidade e a urgência de quem quer ser ouvido.
- Em síntese, uma comunicação satisfatória requer uma boa sintonia de todas as partes envolvidas.