Arquivo | setembro 2022

Falando de Psicologia – (45) – A agressividade na infância.

A agressividade na infância

Toda criança tende a ser um pouco agressiva, sobretudo quando começa a socializar-se. Nos primeiros anos de vida, por não dominar os recursos da linguagem, a criança expressa a sua agressividade através de gritos, choro ou até com agressões físicas. Com o passar do tempo, os impulsos agressivos não desaparecem. No entanto, a criança aprende com os adultos que existem outras formas de obter o que se deseja, seja através da partilha ou da negociação.

Para facilitar o entendimento, vou falar sobre as causas da agressividade infantil e, em seguida, darei sugestões visando uma postura mais adequada, por parte dos pais.

O que acentua a agressividade infantil?

Causas internas:

  • Dificuldade para lidar com as emoções.
  • Mágoas ou ressentimentos (em crianças maiores).
  • Baixa auto-estima.
  • Sentimento de rejeição.
  • Ciúme (de um irmão ou até mesmo de um colega, quando a agressividade aparece mais na escola).
  • Insegurança, de um modo geral.
  • Problemas psíquicos (ou psicológicos) mais sérios.

            Causas externas:

  • Ambiente familiar e/ou social (brigas entre os pais, violência nos mais diversos níveis).
  • Ausência de limites (superproteção).
  • Autoritarismo (de pais ou professores).
  • Pais ausentes.
  • Ambientes marcados pela rivalidade e competição.
  • Quando os filhos são estimulados a resolver conflitos recorrendo a comportamentos agressivos.
  • Quando um comportamento é punido, num dado momento, e ignorado no momento seguinte (a criança fica confusa, pois não sabe distinguir o certo do errado).
  • Experiências de perda.
  • Mudanças de comportamento pós-traumáticas.

Como lidar com a agressividade infantil?

Tanto no caso da agressividade verbal (por meio de palavras), quanto no caso da agressividade física, a conduta dos pais é de suma importância para ajudar uma criança na obtenção de equilíbrio nas suas atitudes. Eu gostaria de sugerir a cada pai ou mãe:

  • Faça de sua casa um lugar bem tranqüilo.

–   Converse e seja paciente (mesmo que a criança ainda não entenda bem o conteúdo, ela entende o tom de voz – comunicando aceitação e transmitindo segurança).

  • Com crianças maiores, esqueça o discurso repreensivo. Procure ouvir e entender, sem acusar.
  • Você não é obrigado a concordar com os argumentos de seu (sua) filho(a) e pode lhe dizer isso. Mas não precisa criticá-lo(a), apenas ensinar-lhe outras maneiras de descarregar a raiva. Assim, não se trata de reprimir, mas de orientar a expressão de sentimentos.
  • Coloque limites e diga não quando for necessário, mas sempre acompanhado de uma explicação.
  • Reserve um tempo para brincar com seu (sua) filho(a).
  • Atividades esportivas e lutas (como judô e outras) ajudam a direcionar a energia para um objetivo mais socialmente aceito. Deixe que a criança participe da escolha da atividade, junto com você.
  • Principalmente: dê amor, atenção e bons modelos. A criança precisa saber que vale a pena ser boa, que é muito importante pedir desculpas ou perdoar. Podemos mostrar tais valores através da nossa formação cristã, aliada aos conhecimentos proporcionados pela psicologia.
  • Não se esqueça de trocar idéias com o pediatra da sua confiança. Há casos em que se faz necessária uma ajuda profissional (de um psicólogo ou de um psiquiatra).

 

 

 

Falando de Psicologia – (44) – Quando a criança tem tudo, mas não é feliz.

Quando a criança tem tudo, mas não é feliz…

 

Hoje em dia é comum encontrarmos crianças com uma “agenda” cheia de compromissos. Há casos em que falta até mesmo tempo para a criança brincar, ou simplesmente para ficar em casa, descansando. É verdade que se deve investir na formação global de cada filho. Porém, suas necessidades emocionais não podem ser negligenciadas. Assim, torna-se indispensável acompanhar o dia a dia da criança, ouvindo-a com atenção e tentando avaliar se ela está feliz, ou não.

Tenho observado que entre as crianças na faixa etária que vai dos sete aos doze anos, muitas se sentem solitárias, insatisfeitas e até mesmo infelizes, embora recebam muito dos pais, pelo menos no que diz respeito aos aspectos materiais. Para elucidar esse ponto de vista, vou relatar um episódio que acompanhei de perto, há poucos dias.

Um menino de quase oito anos surpreendeu o pai, na saída da escola, mantendo com ele o seguinte diálogo:

“Que bom, pai, que essa semana você vem me buscar no colégio e ainda vai poder ficar muito tempo comigo, quando a gente chegar em casa”.

“Você está com saudade do papai?”.

“Não é só isso. É que eu quase não conheço você… Eu não sei qual é a sua cor favorita, não sei qual alimento você prefere, se você tem medo de alguma coisa… A gente não fala dessas coisas, não é, pai?”

“Eu acho que você está repetindo alguma coisa da televisão, pois eu te dou tudo que você quer. De onde você tirou essas ideias?”

“Da minha cabeça, pai. Você podia conversar mais comigo…”

Bem, o pai conversou muito com o menino e os dois realmente precisavam se conhecer melhor.

Percebo que muitos pais são pessoas maravilhosas e até se dispõem a mudar de atitude, quando orientados. O que ocorre, em muitos casos, é que certas crianças com idade entre sete e doze anos são independentes em muitos pontos (na higiene pessoal, na hora de fazer o dever de casa, nas brincadeiras etc.). Fica parecendo que elas podem “se virar” sozinhas e que nada lhes falta. Principalmente quando todos (pais e filhos) passam o dia envolvidos com muitas atividades, sem tempo para trocar confidências, expressar afeto, estreitar os seus laços familiares…

É fácil concluirmos que novamente o bom senso não pode faltar. Ao lado de uma boa bagagem cultural, nada melhor que uma sólida bagagem afetiva. Nossos filhos merecem que a “agenda” de cada um (pai, mãe ou filho) seja estruturada de forma harmoniosa e equilibrada. Certamente os frutos serão colhidos por todos, mais cedo ou mais tarde.