Falando de Psicologia … (24) – Nossa necessidade de crer.

Nossa necessidade de crer

À medida que vai descobrindo progressivamente que seus pais não são perfeitos nem onipotentes, que existe um mundo além do círculo familiar, que outras pessoas – sejam crianças ou adultos – vivem de modo diferente do seu, a criança percebe – (embora sem muita clareza) – que o seu universo se amplia enquanto seu pensamento se modifica. A noção que tem de Deus e da religião também terá de passar por essas transformações. O Deus protetor que sua imaginação construiu, o Deus utilitário a quem recorria em caso de necessidade, tende a dissipar-se, dando lugar ao Deus que será invocado de maneira mais desinteressada, com quem será possível estabelecer uma relação mais pessoal. Um Deus menos intervencionista que poderá tornar-se, no início da adolescência, um interlocutor, um confidente e um amigo. A adolescência chega ao fim, mas as transformações continuam…

Na juventude o indivíduo costuma enfrentar mudanças diversas, incluindo as questões religiosas. Muitos universitários vivem momentos de angústia frente a uma pluralidade de indagações para as quais não obtêm respostas que os satisfaçam. Tornam-se adultos cheios de dúvidas de caráter existencial, presas fáceis da perda de fé. Dependendo das circunstâncias, o saldo final poderá ser bastante positivo, na medida em que o amadurecimento psicológico venha acompanhado de um amadurecimento na fé.

Antes de falar sobre esse aspecto, vejamos algumas considerações sobre a perda de fé.

Segundo o teólogo Luís González-Carvajal, “o silêncio de Deus assinala a morte de uma imagem concreta de Deus, pobre demais, que havíamos fabricado para nós mesmos e que, diante de uma situação nova, não responde a nossas expectativas, nos frustrando”. Em seu livro “Nossa Fé, Teologia para universitários”, ele cita afirmativas muito expressivas, de Leon Tolstoi e Tomás de Aquino, a propósito da crise de fé.

Segundo Tolstoi:

“Se te vem a ideia de ser falso tudo o que pensavas sobre Deus, e de que não existe Deus, não te assustes por isso. Acontece a muitos. Se um selvagem deixa de crer em seu deus de madeira, não é porque não haja Deus, mas porque o verdadeiro Deus não é de madeira”.

Tomás de Aquino já dizia que a fé é “menos certa” do que o conhecimento, porque as verdades da fé “transcendem o entendimento do homem”.

Carvajal pondera que, ao trabalharmos nossa insegurança na fé, podemos chegar à seguinte conclusão: “se houve um tempo em que nos acusávamos de ter dúvidas de fé, hoje deveríamos procurá-las de propósito, como a única maneira de irmos passando do deus de madeira ao Deus de verdade”.

E cita essas palavras de Tomás de Aquino:

“É necessário que aquele que queira conhecer qualquer verdade, conheça todas as dúvidas e dificuldades que existam contra aquela verdade, porque, na solução daquelas dúvidas, encontra-se a verdade. Assim, para saber verdadeiramente, ajudam muito as razões de teses contrárias”.  

Tais afirmativas nos permitem inferir que, por mais penosa que seja uma crise de fé, nossa necessidade de crer em algo maior nos leva ao encontro de Deus, mais cedo ou mais tarde. E esse encontro nos mostrará os caminhos para uma vida cada vez mais satisfatória, sob todos os aspectos, onde se complementam aspectos positivos tanto do lado psicológico, quanto do lado espiritual. É importante salientar que um processo integral de amadurecimento (emocional e espiritual) não ocorre de forma linear, contínua. Podemos ter oscilações que vão e voltam indefinidamente, mas isso não invalida nosso mérito, perante Deus. Ele sempre saberá entender nossa finitude e nossa utopia, nos movendo em direção a incessantes buscas de coerência e estabilidade, como se tais características pudessem se harmonizar, algum dia, com todas as nossas imperfeições…

Quero finalizar lembrando João Paulo II, que ao escrever sua encíclica “Fides et Ratio” (“Fé e Razão”), nos ensina que: “a fé e a razão são como duas asas, pelas quais o espírito humano pode voar em direção à verdade”.

 

 

 

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