Falando de Psicologia … (23) – O adolescente e as crenças religiosas

O adolescente e as crenças religiosas

     A palavra “adolescente” começou a se popularizar na época da Segunda Guerra Mundial. Através dos tempos, os adolescentes têm buscado sua identidade, enquanto tentam estabelecer sua independência com relação aos pais. Muitos autores situam a adolescência no período que vai dos onze aos dezoito anos, aproximadamente. O início da adolescência é marcado pela puberdade, época em que o indivíduo experimenta modificações profundas, tanto físicas como emocionais. A aparência do corpo muda bastante, como também se alteram os interesses e a forma de encarar o mundo. Ao lado de um crescimento físico característico, há também a “explosão” do crescimento intelectual. O adolescente desenvolve um novo padrão de pensamento. Enquanto era criança, pensava em termos concretos sobre ações e acontecimentos. Agora que é adolescente, começa a pensar em termos abstratos sobre conceitos como honestidade, lealdade e justiça. Com o pensamento abstrato, sente-se diante de um mundo onde as possibilidades parecem ilimitadas. O adolescente passa a ter a capacidade de imaginar como as coisas poderiam ser diferentes, como o mundo seria se não houvesse guerras, ou como pais compreensivos tratariam seus filhos. O universo das possibilidades abre todo tipo de porta para a descoberta de uma identidade própria.

     A adolescência é, também, a idade da razão. O adolescente consegue pensar de maneira lógica e ver as consequências das diferentes atitudes que ele adotar (embora muitos se mostrem inconsequentes). Ele aplica essa lógica não apenas nas suas deliberações, como também na argumentação com os pais. Por isso, o adolescente geralmente é visto como um “questionador”. Na verdade, ele só está desenvolvendo suas habilidades mentais e tentando se afirmar. Se os pais entenderem isso, podem ter conversas interessantes e significativas com seus filhos.

     A habilidade intelectual de analisar ideias e ações de uma maneira lógica e de projetar as consequências de certas crenças, dá margem a um típico desafio adolescente, ou seja – o exame dos sistemas de crenças em que o adolescente foi criado. Ele questiona se aquelas crenças são realmente válidas para que ele se comprometa com elas. Os pais, quando questionados sobre suas crenças, devem procurar dar respostas honestas, mas não de um modo autoritário, o que poderia desencorajar o adolescente a continuar explorando suas ideias. Essa é uma boa oportunidade para promover um diálogo sobre valores (éticos, morais ou religiosos) que foram ensinados ao longo dos anos. Porém, se os pais condenarem o adolescente por esses questionamentos, talvez até acusando-o de estar colocando em dúvida as crenças e valores da família, ele é forçado a ir fazer essas perguntas em outro lugar.

     Religião é algo importante para o adolescente contemporâneo. Uma pesquisa do Instituto Gallup, feita nos Estados Unidos, indica que quatro em cada cinco adolescentes (79%) vêem a fé como algo imprescindível. A maioria deles (64%) pertencia a uma igreja, sinagoga ou outro grupo religioso. Metade deles (49%) disse que sua vida pertencia a Deus ou a alguma força superior. Mais de um terço (35%) disse que sua fé era a influência mais fundamental em sua vida. Quatro em cada dez adolescentes (42%) disseram que haviam participado de uma cerimônia religiosa na semana anterior. Uma outra conclusão é que os adolescentes de hoje estão mais interessados nas experiências e nos relacionamentos que podem ter nos grupos religiosos, do que numa crença religiosa abstrata. Se o grupo religioso for receptivo, carinhoso e lhes der apoio, eles se sentirão atraídos para lá, mesmo que não concordem com muitas das convicções desse grupo.

     O adolescente é inquieto. Além de questionar as crenças religiosas de seus familiares, ele examinará o modo como elas são aplicadas na vida cotidiana, podendo até transitar por outras crenças. Se os pais reconhecerem esse direito a ideias independentes e que as decisões dos adolescentes estão em processamento, e se também estiverem dispostos a investir tempo para criar uma atmosfera favorável a diálogos construtivos, o adolescente continuará adepto da boa influência dos pais. Para finalizar, é importante mencionar uma outra conclusão da pesquisa já citada: “Mesmo que as rejeições à religião sejam dramáticas, raramente se tornam permanentes”.

 

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