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Falando de Psicologia … (17) – Afinal, timidez é medo ou ansiedade?

Afinal, timidez é medo ou ansiedade? 

Já falei sobre a timidez na infância. Hoje quero esclarecer alguns aspectos mais gerais, relativos a qualquer faixa etária.

Timidez não é medo. Tecnicamente, timidez é ansiedade em situações sociais. Quando se fala em ansiedade pensa-se em uma condição médica, uma doença. A timidez seria uma doença?

Vejamos, primeiro, a diferença entre medo e ansiedade.

Medo. Características:

  • apreensão ante ameaça real, objetiva;
  • risco de lesão física ou de se perder a vida.

Ansiedade. Características:

  • desconforto, no qual predomina apreensão, ante ameaça vista com os “olhos da imaginação”;
  • risco vago, com ou sem lesão física.

Contudo, a palavra “medo” está consagrada pelo uso, seja para descrever a timidez, seja para descrever uma situação em que a pessoa se sente ameaçada, mesmo na ausência de ameaça real.

O indivíduo médio apresenta ansiedade “normal” – É considerado normal que pessoas se sintam ameaçadas onde não existe perigo real, desde que isso ocorra ocasionalmente ou em circunstâncias específicas, e desde que não haja prejuízo significativo na sua qualidade de vida. A maioria das pessoas tímidas contribui para formar esse padrão médio. Entre quarenta e cinquenta por cento da população mundial se enquadram nos critérios de diagnóstico da timidez, em suas muitas apresentações.

A imensa maioria das pessoas tímidas não é considerada doente, pelos critérios das pesquisas já realizadas.

A timidez, assim como medo de falar em público, “medo do palco” e ansiedade de desempenho, são ocorrências comuns e estão ligadas a situações específicas. Exemplo: não é considerada doente a pessoa que fica um pouco tensa, com a respiração descompassada, o coração acelerado, ou mesmo quando apresenta algum distúrbio psicossomático (como diarreia ou micções frequentes), antes de certas situações, como falar em público, entrar no palco, começar uma prova de concurso, desde que essas manifestações de ansiedade passem e não prejudiquem o discurso ou o desempenho.

Mesmo não sendo considerada uma doença, a timidez pode ser um indicativo de problema psicológico. Sobretudo naqueles casos em que o indivíduo não realiza o seu potencial. Exemplos: se, em função da timidez, uma pessoa só consegue mobilizar parte do seu potencial para amar, dizemos que ela porta um problema nessa área. Se só consegue utilizar 50% da capacidade intelectual, isso certamente a prejudica. Se seu acesso aos próprios sentimentos for limitado, isso gera dificuldades. E assim por diante. Na timidez a pessoa não consegue realizar coisas pelas quais ela anseia muito, apesar do seu potencial – logo, trata-se de problema psicológico.

A timidez aumenta com o tempo?

Em certos casos, sim. Exemplo: uma pessoa tímida pode se envergonhar muito da própria timidez e com isso se tornar mais arredia ao contato. Nesse caso, a timidez inicial, por mais incrível que possa parecer, torna-se causa secundária da timidez, num processo de realimentação.

Diante do que foi exposto, podemos concluir que, embora não sendo doença, a timidez pode interferir negativamente na vida de qualquer um. É importante avaliar até que ponto se faz necessária, ou não, a ajuda de um psicoterapeuta.

 

 

Falando de Psicologia…(16) – Lazer com pouco dinheiro.

Lazer com pouco dinheiro 

  A importância da recreação na vida da criança é algo que não se discute. E quanto maior o espaço que ela tiver, para brincar e se expandir, mais chances terá de se desenvolver bem. Mas, numa cidade como a nossa, a grande maioria das crianças não dispõe de um quintal, ou de uma rua sossegada para jogar bola, empinar papagaios, ou simplesmente brincar de “pegador”.

O que fazer, então, no sentido de ajudar uma criança a viver melhor, apesar da “falta de espaço?”

Muitas sugestões poderiam ser dadas aos pais, como por exemplo:

– Sair com a criança para passear a pé, pelas redondezas, quando então muita coisa ela poderia aprender – como atravessar a rua, como chegar à farmácia ou à padaria, como se deve tomar um ônibus etc. Isso sem falar no contato com os vizinhos, o que representa uma experiência válida dentro do processo de socialização.

– Organizar o ambiente físico da criança (a casa), de modo que cada cômodo seja muito bem aproveitado. De tal forma que ela possa ter o máximo de liberdade possível, no espaço disponível.

– Propiciar meios da criança entrar em contato com a natureza (planta, terra, água), nem que seja através do cultivo de um pequeno vaso. Isso não fica dispendioso e não requer muito espaço. A experiência, do ponto de vista psicológico é válida, desde que a criança possa ter liberdade para escolher a planta e cuidar dela à sua maneira, depois de ser devidamente orientada por um adulto.

– Nos fins de semana, sempre que possível, levar a criança para passeios ao ar livre e em lugares mais amplos, onde ela possa “gastar energia” à vontade.

Como se pode ver, estas sugestões nada trazem de novo ou especial. São bem simples e sua execução não está diretamente ligada ao fator econômico. Talvez a dificuldade em se obter um resultado satisfatório, com medidas aparentemente banais, se deva a alguns requisitos de grande valor, na personalidade dos pais. Assim, os pais que desejam realmente ajudar uma criança, deveriam apresentar as seguintes características:

– Gosto pela vida (entusiasmo).

– Aceitação do “modus-vivendi” e vontade de progredir, de melhorar. Para isso, uma boa dose de energia, força de vontade e discernimento seria algo indispensável.

– Interesse pela criança e por seu desenvolvimento.

Diante de tudo isso, a questão do “espaço” fica totalmente secundária. O importante, mesmo, é que os pais conheçam bem o filho, conheçam as próprias possibilidades como pais e saibam trabalhar dentro delas.

 

Falando de Psicologia… (15) – O pai (ou a mãe) pode criar os filhos sozinho (a)?

O pai (ou a mãe) pode criar os filhos sozinho(a)?

     Sempre que se fala em criança que só convive com um dos pais (seja por morte de um deles, por separação ou por qualquer outro motivo) vem logo a imagem de alguém que sofre muito e que, invariavelmente, terá problemas por causa disso. É verdade que nem sempre se pode contradizer tal afirmativa já que, para muitas pessoas a morte ou a ausência do cônjuge toma proporções exageradas, muito além da dor inerente a tais circunstâncias. A morte do marido pode deixar certas mulheres numa situação muito difícil perante os filhos, principalmente quando elas são pessoas de pouca iniciativa. Incapazes de tomar decisões por conta própria, a ausência do marido as deixa transtornadas. O resultado costuma ser uma perda de controle na orientação dos filhos e, a partir daí, muitos problemas poderão surgir. O mesmo raciocínio se aplica a certos homens, quando precisam encarar uma perda.

Mas essa não é uma regra geral. Uma criança pode desenvolver-se bem, apesar da falta de um dos pais. Vejamos o que dizem alguns autores: “É perfeitamente possível para o pai (ou para a mãe), criar os filhos sem a ajuda do outro (esposa ou marido), desde que tenha uma saúde mental razoavelmente boa e não sinta pena de si próprio ou dos filhos”. Em outras palavras, uma criança tem grande chance de se desenvolver bem, do ponto de vista psicológico, quando são favoráveis as condições emocionais de quem cuida dela, bem como as circunstâncias do ambiente onde vive (sobretudo no que se refere à escola).

Outros autores assim se expressam: “A maioria dos pais tem insuspeitas reservas de força e compreensão quando se defronta com crises verdadeiras”. Acreditam, portanto, no valor que os pais encontram dentro de si mesmos, inclusive nas situações mais dramáticas. Esses autores vão mais longe, ao realizar uma pesquisa com jovens cujos pais tiveram problemas dessa natureza (por separação ou por morte de um deles). Chegaram à conclusão de que, comparativamente, a incidência de problemas de ajustamento é a mesma, tanto para jovens que vivem com ambos os pais, quanto para aqueles cujo pai (ou mãe) não contou com a presença do outro para ajudá-lo na educação dos filhos.

Tais informações devem trazer um certo alívio para as pessoas que se preocupam pelo fato de terem se separado, e o que isso representa para o futuro de seus filhos.

Vou tecer outros comentários sobre isso, em função da grande incidência de casais que se divorciam. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cada ano duzentas mil crianças vêem seus pais se separarem (isso foi medido nas regiões metropolitanas do Brasil). Nas salas de aula, a paridade de crianças de lares unidos e separados é bem dividida, o que faz com que as crianças não se sintam excluídas ou diferentes umas das outras. Dessa forma, tem diminuído o estigma de que filhos de pais separados sofrem mais, têm menor rendimento escolar, mais problemas emocionais e auto-estima mais baixa que os filhos de casais que permanecem juntos. No entanto, todo cuidado é pouco, quando se trata de preservar os filhos dos prováveis danos de uma separação.

Algumas medidas, de ordem prática, merecem ser lembradas. Por exemplo:

  • Os pais não devem falar mal do outro, para o filho.
  • Jamais usar os filhos como “espiões”, para saber da vida do outro.
  • Evitar discussões na frente das crianças.
  • Reservar tempo para dialogar com os filhos, ouvindo atentamente o que eles têm a dizer.
  • Conservar o bom senso, sobretudo na hora de colocar limites.
  • Deixar bem claro, principalmente para as crianças, que o término do casamento não implica em perda do amor que os pais nutrem pelos filhos. Mais do que nunca é preciso tranquilizá-los quanto à manutenção desse vínculo afetivo.

O ideal é que pai e mãe possam assegurar aos filhos a qualidade e a intensidade de seu afeto, o respeito ao antigo parceiro e, principalmente, a consciência de que a relação que foi finalizada pode servir de impulso para a construção de outras, mais positivas e mais salutares.

 

 

 

Falando de Psicologia… (14) – O adolescente e a autoridade dos pais.

O adolescente e a autoridade dos pais

     Para mostrar aos pais um modo de se chegar ao jovem e de ajudá-lo a amadurecer, vou falar sobre um recurso utilizado por muitas famílias, com o objetivo de repreender o adolescente. Refiro-me às críticas que a toda hora são feitas a ele.

Muitas vezes, os pais tentam corrigir alguma falha dos filhos através de repreensões severas demais. E já se observou que o resultado nem sempre é satisfatório, pois certas críticas têm efeito contrário. Assim, críticas destrutivas provocam ressentimento no jovem, irritação, revolta, atitudes de represália e outros efeitos indesejáveis. E se as críticas se repetem com frequência, o jovem pode se prejudicar de várias maneiras – ele aprende a censurar a si mesmo e a criticar os outros de modo injusto. Aprende a duvidar do próprio valor e a menosprezar o valor alheio. Aprende a suspeitar dos outros e a esperar fracassos pessoais.

Portanto, conforme o modo com que repreendem ou criticam, os pais podem provocar um afastamento dos filhos, além de impedir que eles formem um bom conceito de si mesmos, tornando-os inseguros.

É necessário que os pais tenham em mente a diferença que há entre uma crítica destrutiva e uma crítica construtiva. Sobre a primeira, já vimos quais são os efeitos que ela pode produzir. Quanto à crítica construtiva, podemos defini-la como uma forma de mostrar à pessoa seus erros ou enganos, sem contudo, ofendê-la. Refere-se ao erro cometido, e não à pessoa. Isto é, nunca ataca a pessoa que errou, mas discute a atuação em si. Sendo assim, a finalidade de uma crítica construtiva é apontar o que deve ser feito em determinada circunstância. Vamos ver um exemplo, para ficar mais claro esse conceito.

Um adolescente toma recuperação (ou prova suplementar) em uma determinada matéria e o pai vai falar com ele sobre o fato. Inicia a conversa, perguntando: “Bem, já que você está com esse problema, o que poderíamos fazer para solucioná-lo? Será que algumas aulas de reforço ajudariam você a recapitular a matéria?”

Com essas palavras o pai mostra compreensão pelo que se passa com o filho, sem atacá-lo com críticas irônicas, tais como: “Você é mesmo incompetente, hein? Será que não percebe como seu pai dá duro para pagar seus estudos? Desse jeito seu futuro será o pior possível!”

Um pai que fala dessa maneira por causa de um insucesso na escola, ao invés de ajudar o filho, pode deixá-lo com a sensação de que é um fracasso total, que é culpado pelo sacrifício do pai e que nunca terá a chance de progredir.

E não é só em casos extremos que isso pode acontecer. Muitas vezes, comentários aparentemente inofensivos, podem minar a autoconfiança do jovem, a ponto de agravar os problemas já existentes e de criar outros. Ou seja, o adolescente que é constantemente levado a sentir-se incapaz ou inadequado, acaba aceitando essa avaliação como verdadeira. Poderá perder o interesse pelos estudos e até tomar aversão pela escola. Poderá simular doenças em dias de prova para evitar uma avaliação de fora (no caso, dos professores). Poderá se afastar pouco a pouco dos colegas, por se sentir inferior a eles. Poderá se tornar tão rebelde a ponto de comprometer seu ajustamento familiar e social.

Embora pareça exagero fazer tais previsões, o fato é que o jovem precisa muito de estímulo e de credibilidade para se tornar um adulto livre de problemas como os que citei. É por isso que as críticas devem ser feitas num tom amigável e justo, pois desse modo o adolescente terá mais chance de reconhecer seus erros e buscar soluções apropriadas para suas dificuldades. Com a ajuda dos pais, ele poderá aproveitar da experiência do adulto, sem se sentir ofendido ou humilhado. No lugar de um sentimento de revolta, uma crítica construtiva desperta no jovem um sentimento de respeito pela autoridade. Ao invés de sentir sua integridade ameaçada por um possível autoritarismo, o jovem sente que é, também, uma pessoa merecedora de estima e consideração. E, sem dúvida alguma, os pais desempenham um papel muito valioso em todo o processo de crescimento de cada um de seus filhos, contribuindo de maneira decisiva para a felicidade dos mesmos.

 

 

 

 

Falando de Psicologia… (13) – O que é imaturidade?

O que é imaturidade?

   Com muita frequência as pessoas me fazem perguntas como essas: “é normal uma criança de seis anos chupar bico?”, ou então: “é normal uma criança de oito anos urinar na cama?”.

Eu não diria que isso seja anormal, mas tanto chupar bico, como urinar na cama, são características próprias de crianças mais novas.

De modo análogo, não é natural que um adulto se comporte como um adolescente (por exemplo, manifestando uma preocupação excessiva com o próprio corpo, ou agindo de maneira irresponsável). E é sobre esse tema que falarei agora. Ou seja, a presença de determinados comportamentos que nós, psicólogos, costumamos englobar sob a denominação de imaturidade.

     Do ponto de vista psicológico, dizemos que um indivíduo é imaturo quando há um desnível entre sua idade cronológica (idade real, em termos quantitativos quanto ao número de anos de vida) e o seu comportamento. Assim, ele pode se desenvolver bem fisicamente e, ao mesmo tempo, apresentar uma espécie de retardo afetivo. Em outras palavras, há um atraso no desenvolvimento psicológico do indivíduo, que o impede de “crescer” e agir como alguém de sua idade.

Causas da imaturidade ligadas à infância

  • Quando a criança é ou foi superprotegida, por qualquer uma das circunstâncias que citarei como exemplos: filho único, caçula, criança muito doente, criança que nasceu após dificuldades as mais diversas (aborto, morte de um irmão ou do pai, saúde precária da mãe, problemas conjugais etc.).
  • Quando a criança é educada num ambiente de instabilidade. Se os adultos que convivem com ela se mostram contraditórios em suas exigências e concessões, o clima que se cria é de insegurança e confusão. E isso pode comprometer o amadurecimento da criança.
  • Quando a criança não tem liberdade de ação. Uma disciplina muito rígida pode inviabilizar certas iniciativas da criança, tornando-a dependente e frágil.
  • Quaisquer ocorrências que provoquem danos à evolução natural de uma criança.

Vou citar, agora, alguns exemplos de comportamentos que acompanham a imaturidade (no caso da criança): enurese após os cinco anos de idade, rompantes temperamentais (birras, agressividade descontrolada), atitudes regressivas diante de certas dificuldades (quando ela volta a falar como bebê, ou então volta a chorar continuadamente, sem ao menos tentar resolver seus problemas mais banais), mentira, franca oposição a qualquer tipo de autoridade, hábitos diversos (roer unhas, chupar dedo, chupar bico após os dois ou três anos), dificuldade para dormir sozinha, oscilações de humor, além de outros exemplos no gênero.

Para dizermos que há imaturidade psicológica não é preciso que ocorram todos esses comportamentos. A presença de um (ou mais) pode ser suficiente para caracterizá-la.

Tudo isso se manifesta na vida adulta da seguinte forma:

  • A pessoa mostra dificuldade em fazer opções (para escolher uma profissão, por exemplo).
  • A pessoa age mais por impulsos, sem controle ou crítica (o que corresponde a uma falta de disciplina interior).
  • A pessoa não costuma persistir numa tarefa por muito tempo (isto se deve ao fato de que, uma pessoa imatura, tal como a criança medrosa, tem pouca resistência às frustrações e, por isso mesmo, acaba fugindo das situações difíceis, ao invés de enfrentá-las). Ou então, mostra-se irresponsável com os compromissos assumidos.
  • A pessoa não consegue encarar a vida com realismo.
  • Geralmente, uma pessoa imatura comete muitos erros ao criar seus filhos.
  • Em resumo, o indivíduo imaturo (seja ele criança, adolescente ou adulto), é uma pessoa que consome uma energia muito grande, mas com resultados pouco significativos, ou pouco satisfatórios.

Como ajudar uma pessoa imatura?

De duas maneiras:

  1. Uma ajuda de caráter preventivo, o que se obtém através de: mudanças no ambiente, orientação aos pais etc.
  2. Psicoterapia ou tratamento psicológico para os casos em que a imaturidade psicológica é um fator preponderante na vida do indivíduo.

 

 

Falando de Psicologia… (12) – O lado psicológico das festas infantis.

O lado psicológico das festas infantis

     Comemorar aniversário, sobretudo de crianças, é uma prática mundialmente difundida. No entanto, nem todas as festinhas alcançam o sucesso esperado por aqueles que as organizam. Apesar dos preparativos e da despesa quase sempre elevada, certas comemorações acabam por causar transtornos, os mais diversos. Inclusive para o aniversariante.

Vamos ver, em linhas gerais, o que costuma ocorrer nessas ocasiões e alguns elementos que merecem destaque, quando se trata de tornar mais alegre o aniversário de uma criança.

Muitos fatores podem prejudicar o encanto de uma festa. Desde os detalhes mais simples de sua organização, até aspectos mais profundos, ligados à personalidade da criança ou de seus pais. E isso independe do nível sócio-econômico de quem dá a festa.

Assim, encontramos casos em que a realização de uma festa infantil implica muito mais na satisfação de necessidades dos pais, que propriamente do aniversariante. Por exemplo: os pais desejam dar ao filho o que não tiveram na própria infância; ou os pais desejam impressionar os amigos (no caso de festas espetaculares); ou então, os pais pretendem retribuir a gentileza de outras pessoas, convidando-as; outros se utilizam de festas preparadas com exagero para satisfazer os caprichos do filho superprotegido (o que muitas vezes envolve gastos que comprometem o orçamento familiar). Então, o que poderia ser motivo de alegria e descontração, passa a representar fonte de tensão e angústia, podendo interferir, negativamente, no relacionamento familiar.

Antes de tudo, é preciso definir claramente os objetivos, dentro de um enfoque bem realista.

De um modo geral, são estes os elementos que merecem prioridade na hora de organizarmos uma festa infantil: deixar as crianças mais à vontade; proporcionar um ambiente agradável e homogêneo (quanto a interesses e características pessoais dos participantes); evitar desgastes desnecessários para o aniversariante e seus pais; proporcionar segurança às crianças (através da presença de um supervisor e da seleção por idade), e assim por diante.

E como podemos alcançar tais objetivos?

Através de um planejamento prévio, onde nossa principal preocupação seja o respeito pela criança e suas necessidades, sem perder de vista as nossas reais condições financeiras.

Vejamos alguns exemplos do que seria mais importante:

  • Idade do aniversariante e dos convidados. Na medida do possível, devem participar da festa apenas as crianças que tenham idade aproximada à do aniversariante, pois assim fica mais fácil um entendimento entre as mesmas. Além disso, as mães podem ficar mais tranqüilas, pois as condições físicas se equivalem. Isso sem falar na vantagem de haver semelhança na área de interesses e no amadurecimento.
  • Horário da festa. Quanto mais nova a criança, mais cedo deve ser comemorado o seu aniversário. Até os seis ou sete anos a festinha é mais saudável quando realizada à tarde, e não à noite. As crianças se sentem mais dispostas, podem brincar mais à vontade e ainda deixam os pais com a noite livre para descansar.
  • Grau de conhecimento entre as crianças. Na medida do possível, seria útil que os participantes de uma festinha já se conhecessem antes da realização da mesma. Isso evitaria dificuldades, tanto para os anfitriões, quanto para as crianças. Sobretudo para aquelas mais retraídas ou tímidas. Quando não se pode fazer tal seleção, é bom que evitemos colocar juntas as crianças com características muito diferentes (por exemplo: crianças muito agressivas e crianças que não sabem se defender).
  • Presença de um adulto para supervisionar e atender às necessidades das crianças. Essa medida poderia evitar a ocorrência de certos acidentes e brigas onde não haja igualdade de condições (físicas ou psicológicas). Além disso, uma pessoa assim poderia até mesmo orientar as brincadeiras de algumas crianças, ou verificar se todas estão se servindo como gostariam.

Certamente muitas outras sugestões poderiam caber aqui. Porém, o mais importante é canalizar todos os esforços para adequar a realização de uma festa aos sonhos infantis e às condições de seus pais; para que todos se sintam bem – antes, durante e depois da comemoração.

 

Falando de Psicologia… (XI) – O hábito, nem sempre infantil, de roer unhas.

O hábito, nem sempre infantil, de roer unhas…

     Ao roer unhas, uma pessoa pode estar em busca de um alívio para suas tensões emocionais. Mas, o que dizer da criança que tem esse comportamento? Vou examinar o assunto sob três aspectos.

1.     O ato de roer unhas, na infância, pode ser algo natural?

Sim, mas nem sempre. Se uma criança, ainda bem pequena, começou a roer unhas apenas por imitação (ao ver alguém da família fazer isso), não podemos dizer que só esse fato seja sinal de algum problema. Sabemos que a tendência de qualquer criança é repetir aquilo que lhe causa prazer, mesmo que isso a prejudique (por exemplo, ela pode comer todos os bombons de uma caixa no mesmo dia, só porque acha gostoso comê-los). Assim, a criança pode até achar divertido cortar as unhas com os próprios dentes, sem que exista algo sério por trás desse comportamento. É bem provável que uma ocupação que a agrade (brincar na areia, brincar com argila ou com qualquer outra coisa que ocupe suas mãos) venha substituir aquela “brincadeira” de roer unhas.

Quanto ao aspecto negativo do ato de roer unhas, prefiro mostrar isso no tópico seguinte.

2.     Por que nem todas as crianças roem unhas?

O que justifica essa variação é a diferença que existe de uma criança para outra, ao longo do processo evolutivo. Como seu desenvolvimento (físico, intelectual e emocional) está ligado a uma série de fatores – constitucionais, (isto é, próprios da criança) e ambientais, (isto é, tudo aquilo que ela recebe do meio exterior) – podemos   esperar vários padrões de comportamento. Mas, de um modo geral, já se observou que o ato de roer unhas aparece, em certas crianças, por volta dos três anos de idade. Dependendo das circunstâncias, esse ato pode desaparecer naturalmente com o tempo, tal como já foi visto no tópico anterior. Mas, aqueles fatores a que me referi podem facilitar ou impedir o desaparecimento do ato de roer unhas. Vou dar um exemplo, para ficar mais claro.

Uma criança, inteiramente normal quanto ao seu desenvolvimento físico e mental, é duramente castigada quando rói unhas. Porém, ela continua a fazê-lo e com uma frequência cada vez maior. Bem, num caso desses, o que podia ter sido uma conduta sem importância e de pequena duração no início, pode ter se transformado num meio de aliviar a tensão produzida pelo medo aos castigos. E um círculo vicioso se instala: quanto maior a tensão, maior a necessidade de buscar um alívio para ela, isto é, maior a necessidade de roer unhas.

Na maioria das vezes, o ato de roer unhas está ligado à existência de tensão psicológica.

Assim, um estudante que se preocupa demais com seu sucesso como aluno, pode roer unhas com muito mais intensidade por ocasião das provas. Isso significa que tal ato, além de proporcionar um alívio da tensão psicológica, pode ser uma espécie de reação a qualquer perigo iminente (seja de fracasso nos estudos, de ser castigado, ou qualquer outro exemplo semelhante).

3.     Quais as medidas que favorecem o abandono de um ato como esse?

No que se refere aos pais, eles poderiam:

·      Evitar castigos e repreensões, pois tal atitude, em geral, tem efeito negativo.

·      Não mostrar expectativa de que a criança deixe, de uma hora para outra, o ato de roer unhas. Isso porque, abandonar um comportamento como esse, de forma súbita, é uma tarefa muito pesada para ela. É preferível estimular a criança aos poucos. Estimulá-la, por exemplo, a passar a metade de um dia sem roê-las. Depois um dia inteiro. Depois dois dias, uma semana, um mês etc. Pequenas etapas estão mais ao alcance da criança.

·      Recorrer à ajuda de um especialista em problemas emocionais na criança, quando tal medida não der resultado. A presença de grandes dificuldades emocionais pode tornar o ato rebelde e de difícil extinção através do estímulo dos pais, apenas. O especialista terá mais recursos de atuar na raiz das dificuldades, trabalhando a tensão e, como consequência, o hábito de roer unhas.

 

 

Falando de Psicologia… (10) – Quando os pais se sentem culpados…

 

Quando os pais se sentem culpados…

 

Qualquer pessoa pode experimentar sentimento de culpa em certas circunstâncias. Trabalhando como terapeuta durante décadas, pude observar que muitos pais, de gerações diferentes, estão sujeitos a sofrer com a culpa em relação aos filhos. E isso acaba interferindo na hora de colocar limites. Ocorre certa confusão entre permissividade e manifestação de afeto. Ou seja, permitindo tudo aos filhos, certos pais acreditam que conseguirão estabelecer um vínculo afetivo maior, mais significativo. Mas se esquecem de que a incapacidade de dizer “não”, ou os sentimentos de culpa associados à ausência de limites, são tão nocivos quanto o autoritarismo, na medida em que provocam uma dificuldade de adaptação social. Uma criança que cresce sem limites não tolera a espera, é incapaz de ceder quando se trata da satisfação de suas necessidades, não convive bem com as frustrações e não aceita que as coisas não funcionem do seu jeito. Se pararmos para pensar sobre isso, vamos verificar que tais crianças dizem “não” com muita facilidade, enquanto seus pais relutam em fazê-lo. Recusam-se a obedecer em suas atividades diárias, como por exemplo: na hora do banho, na hora das refeições, na hora de ir para a escola ou de fazer o “para casa”. É importante lembrar que ninguém nasce com o perfil de um tirano. As condições ambientais podem transformar uma criancinha inocente em alguém extremamente rebelde e insatisfeito, não só na infância, como também na adolescência e até mesmo na idade adulta.

A dificuldade em dizer “não” e estabelecer limites, muitas vezes está diretamente ligada ao sentimento de culpa que os pais experimentam por se ausentarem de casa, passando o dia todo envolvidos com seu trabalho ou com outras atividades. Quando se encontram com os filhos, querem compensar tal ausência por uma permissividade que desconhece o bom senso e a adequação. Alguns até almoçam em casa, mas se mostram incapazes de dar uma boa orientação. Assim, se o filho pede algo, eles interrompem uma atividade (como assistir um noticiário na TV, por exemplo), agindo como se o desejo do filho fosse uma prioridade absoluta.

Para tentar ajudar esses pais, vou citar alguns elementos que devem ser lembrados.

Nesse momento quero me dirigir a eles com o maior respeito e carinho, pois é grande o sofrimento de quem experimenta sentimento de culpa e ainda precisa ter energia e discernimento para exercer uma profissão. Portanto, pais:

  • Não tenham medo de exercer sua autoridade. Lembrem-se de que os limites, quando colocados de forma justa e coerente, podem ser até mesmo terapêuticos.
  • Ninguém precisa ficar fisicamente junto 24 horas por dia, para ter uma relação autêntica e feliz.
  • Reavaliem sua disponibilidade de tempo, pois não é saudável se sacrificarem com uma carga horária de trabalho que comprometa seu tempo livre para dedicar aos filhos.
  • A educação de nossos filhos deve ter como objetivo fundamental o desenvolvimento de pessoas responsáveis, maduras e autônomas.

Falando de Psicologia… (9) – Quando nossos filhos crescem…

 

Quando nossos filhos crescem… 

     Hoje quero falar para os pais cujos filhos estão entrando na adolescência. É interessante observarmos que certas mudanças estão ocorrendo cada vez mais cedo. Por exemplo, meninos e meninas de menos de dez anos já se recusam a andar de mãos dadas com os pais. Em certas ocasiões já não se despedem deles com beijinhos, principalmente se estão perto dos colegas. Quase sempre preferem fazer programas com os amigos, ao invés de sair com os familiares. E os pais se ressentem, sobretudo aqueles mais afetuosos ou mais sensíveis.

Por que ocorrem essas mudanças?

Se pararmos para analisar o momento que estamos vivendo hoje, fica mais fácil entender alguns conflitos presentes em certos lares. A começar pelo acesso à tecnologia eletrônica: o número de crianças e adolescentes que possuem celular e computador é cada vez maior, independente de sua condição socioeconômica. Isso é ótimo, mas ao mesmo tempo pode se tornar prejudicial, na medida em que proporcione uma ideia de autonomia, antes da obtenção do verdadeiro amadurecimento emocional. Por outro lado, muitos adultos e crianças passam o dia todo ocupados com diversas atividades. Quando se encontram, geralmente à noite, estão cansados e sem disposição para o diálogo. O dia termina e vão todos dormir sem buscar um entendimento, sem um entrosamento mais satisfatório. No dia seguinte nova jornada de trabalho ou estudos tem início, onde a falta de tempo para interagir vai se tornando cada vez mais frequente. Meninos e meninas tomam conhecimento de informações nacionais e internacionais, conversam entre si o dia todo (via celular ou Internet) e fica parecendo que ter atitude de criança seria algo indesejável até mesmo para quem ainda é, realmente, uma criança. Ou seja, os meninos e meninas têm se mostrado muito precoces, no que se refere às características próprias de quem já entrou na adolescência. Muitas vezes o desenvolvimento físico ainda é o de uma criança, mas os anseios de maior liberdade e as atitudes contestatórias já lembram mais o perfil de um jovem rebelde.

O que fazer, nesses casos?

Bem, por incrível que pareça, as recomendações são velhas conhecidas de todos os pais. Nós, psicólogos, pedimos sempre que se busque o diálogo, onde se acertam possíveis divergências e, principalmente, possíveis desencontros. É muito importante que haja aceitação e muita calma, pois tudo isso vai passar, dando lugar a posturas mais adequadas.

Como sugestões de ordem prática, podemos citar:

  • Encarar as atitudes contraditórias com tranquilidade, sem recriminações que possam provocar sentimentos de culpa no(a) filho(a).
  • Evitar excesso de conselhos, críticas ou “sermões” moralistas.
  • Valorizar o bom comportamento do(a) filho(a) através de elogios e estímulos.
  • Ser firme na colocação de limites, mas sem autoritarismo.
  • Enfim, ser compreensivo e amoroso, entendendo que todo indivíduo precisa encontrar a sua identidade e consequente autonomia.

Falando de Psicologia… (8) – O apetite de seu filho merece todo carinho.

O apetite de seu filho merece todo carinho

      A época em que vivemos é bastante marcada pela preocupação com aspectos físicos ligados à alimentação, haja vista a proliferação de dietas e de produtos chamados “diet” e “light”.Daí a importância de entendermos como tem início uma inapetência, ou então, um apetite exagerado. Existem mecanismos que estão presentes nos dois casos.Compreendendo o que se passa na infância, fica mais fácil atuarmos de forma preventiva, já que é na adolescência e na vida adulta que as questões alimentares mais sobressaem.

Estudiosos do assunto, ao pesquisar sobre as origens dos principais distúrbios alimentares, chegaram à conclusão de que os fatores afetivos provenientes das relações entre pais e filhos são os que provocam o aparecimento tanto da inapetência, como do apetite exagerado. Estes “fatores afetivos”, em linhas gerais, seriam: rejeição da criança, atitudes de abandono ou de superproteção, atitudes de rigidez ou rigor excessivo no contato com o filho, dentre outros.

Existem alguns fatores orgânicos que podem interferir na redução do apetite. São perturbações digestivas, infecções (incluindo o período de convalescença), intolerância por certos alimentos, além de outras causas que o médico pode encontrar. É fundamental que se faça uma avaliação por parte de um pediatra ou de um endocrinologista, sobretudo quando a criança se encontra num dos extremos: inapetência acentuada (e duradoura) ou apetite exagerado, comprometendo sua saúde de forma abrangente.

Afastada a hipótese de causas orgânicas, podemos pensar nos fatores psicológicos que costumam dar origem a uma alteração no apetite. Vejamos alguns que são comuns na inapetência e no apetite exagerado: necessidade de chamar atenção, insegurança, quando a criança se sente infeliz, quando está sob tensão, quando sente muito medo e, como já foi dito, quando se sente rejeitada ou quando é superprotegida. É fácil deduzir que o alimento passa a constituir elemento compensatório (sobretudo quando a criança come em excesso). Há casos em que a conduta alimentar inadequada revela uma necessidade de agredir, de atingir os pais. Agindo assim, a criança pode experimentar culpa. E a ansiedade provocada por esse sentimento pode resultar em novas situações de inapetência ou apetite exagerado. Instala-se, então, um círculo vicioso. Muitas vezes o problema requer a procura de um psicólogo, pois nem sempre as mudanças no ambiente são suficientes para reverter um quadro de distúrbio alimentar. Para tranqüilizar os pais, darei algumas sugestões que podem ser úteis. Por exemplo:

  • Fazer o possível para agir com naturalidade na hora das refeições. Todo exagero – aplaudindo ou recriminando – o apetite de uma criança, pode levá-la a atitudes de manipulação, interferindo no seu relacionamento com os pais.
  • Não prometer castigos nem presentes caso a criança coma, ou não, a quantidade desejada pelos pais.
  • Evitar comentários que representem ameaças para a criança (referindo-se a ficar muito fraca e não crescer, ou ficar obesa e pouco atraente).
  • Elaborar um cardápio bem balanceado em termos de nutrição e paladar (para isso a orientação – de um médico ou de um nutricionista – muito vai ajudar).
  • Reavaliar as condições pessoais (se os pais estão felizes, por exemplo) e as condições ambientais.
  • Enfim, checar até que ponto nosso bom senso está atuando, ou não.