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Falando de Psicologia – (37) – Em que época tem início a fantasia? (I)

  Características da fantasia considerada normal, na  infância.

A fantasia, de um modo geral, pode ser considerada um meio da criança se adaptar à realidade, pelo menos enquanto ainda é muito nova para julgar e criticar seus próprios atos e as ocorrências da vida. Através da imaginação, a criança se integra mais facilmente ao “mundo dos adultos”. 

 Em que época tem início a fantasia?

Para diversos autores, o aparecimento da fantasia coincide com a fase de aquisição da linguagem. Para outros, isso pode ocorrer até antes desse período, ou melhor, antes que a criança tenha atingido os doze meses.

É muito compreensível que se estabeleça uma relação entre a fantasia e a linguagem, em termos de idade. Ora, se a criança ainda não fala, só poderemos deduzir a existência da fantasia por outros comportamentos que ela manifeste. Como é aos dois anos que uma criança comum domina melhor a palavra, podemos dizer que a fantasia, propriamente dita, tem início entre os dezoito e os vinte e quatro meses. Além disso, há apenas indícios de que a criança faça uso do pensamento, acompanhado da imaginação (ou fantasia). É o caso, por exemplo, da criança que, ainda bem pequena, imita o que seus familiares fazem com mais frequência:   telefonar, pegar a chave para abrir uma porta, colocar os óculos  ou pegar a bolsa na hora de sair. Isso significa que uma criancinha de um ano de idade ( ou até menos), tenta executar movimentos que reproduzam, de forma bastante aproximada, os atos reais executados pelos adultos de sua convivência. E, se formos mais longe, podemos dizer que, na fantasia dessa criança, a simples repetição de alguns atos ou movimentos, adquire o valor de uma ação verdadeira. É como se a criança acreditasse que seus movimentos, ainda descoordenados,  fossem capazes de produzir o efeito obtido pelo adulto ao usar o telefone, por exemplo. Ou mais especificamente, o celular.

Resumindo, temos: os primeiros indícios da existência da fantasia na criança são os que se caracterizam pela imitação de comportamentos mais simples, os quais dizem respeito à sua vida diária.

Gostaria de lembrar outro exemplo que mostra a existência da fantasia, sem que a criança se utilize de palavras. É quando ela imita os cuidados que sua mãe lhe dispensa, tentando alimentar  ou fazer higiene em suas bonecas (ou bonecos), ou até mesmo nos animais de brinquedo.

Para a criança tudo isso tem um significado de realidade e é de grande importância no processo de aprendizagem.

 

Observação: no próximo artigo abordarei o tema fantasia nas diferentes etapas do desenvolvimento  da criança, do ponto de vista cronológico.

 

 

 

    

 

 

 

 

Falando de Psicologia – (36) – Fantasia na infância e na adolescência (Introdução).

Fantasia na infância e na adolescência

(Introdução)

      Abordarei um tema interessante e significativo, dentro do processo de  desenvolvimento humano. Trata-se da fantasia, uma forma de pensamento que é encontrada na grande maioria das crianças e adolescentes, sobretudo em determinadas épocas de sua vida.

Devido, justamente, à incidência com que ocorre, e às suas múltiplas formas de expressão, a fantasia é um tema rico e complexo.

Vou analisá-lo sob três  ângulos diferentes:

  1. Características da fantasia considerada normal, nas diferentes etapas de evolução da criança e do adolescente.
  2. Problemas psicológicos ligados à fantasia.
  3. Os diferentes significados dos “companheiros imaginários”.

Para analisar cada um desses itens em profundidade, vou subdividir o tema fantasia em vários artigos, para não ficar muito cansativo para o(a) leitor(a).

Aguarde, portanto!

 

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Falando de Psicologia – (35) – Portadores de deficiência: a aceitação e a família (II)

Portadores de deficiência: a aceitação e a família (II) 

     No artigo anterior tive oportunidade de conceituar aceitação e criança excepcional (ou portadora de necessidades especiais, ou então, portadora de deficiência). Hoje comentarei alguns aspectos da aceitação familiar.

Como se manifestam a aceitação e a não-aceitação de uma criança?

Uma família que esconde um filho portador de necessidades especiais, não o aceita. Da mesma forma, se a família que se envergonha desse filho, isso é sinal de que ela também não o aceita.

Esses são exemplos de não-aceitação ou rejeição. Mas, a família que deseja que o filho seja mantido em instituições e que ele passe pouco tempo em seu meio, também o está rejeitando. Quando os pais castigam um filho simplesmente porque urina na cama, ou o ridicularizam porque não sabe pronunciar bem as palavras, também estão dando mostras de que não o aceitam tal como ele é, com suas habilidades e com suas limitações. Quando os pais não sabem ouvir pacientemente o que o filho está tentando dizer, achando que ouvir uma criança que lhes dá trabalho é perda de tempo, é sinal de que eles não aceitam o papel de pais, no seu sentido mais elevado.

Qual a importância da aceitação, por parte dos pais, para o futuro de uma criança?

Um dos maiores avanços da Psicologia e da Psiquiatria nas últimas décadas, foi a demonstração da importância do cuidado que os pais dispensam aos filhos, nos primeiros anos de vida, para a sua saúde mental futura. Já se verificou que é essencial para a manutenção do equilíbrio emocional, que a criança experimente um contato caloroso, íntimo e contínuo com sua mãe, no qual tanto a criança como a mãe encontrem satisfação e bem estar. Quando uma criança não vivencia isso com sua mãe ou com outra pessoa que a substitua, dizemos que essa criança tem uma privação do carinho materno.

Existem vários estudos comprovando os efeitos dessa privação sobre a criança. Mostrou-se, entre outras coisas, que o desenvolvimento dessas crianças é quase sempre mais demorado – seja do ponto de vista físico, intelectual ou social – e que sintomas de doença física ou mental podem aparecer; quero dizer, a criança torna-se mais vulnerável às enfermidades, de uma maneira geral; rende aquém de suas possibilidades intelectuais; ajusta-se pouco aos outros.

Ao considerar tal afirmativa, nós precisamos nos lembrar de que muitas crianças já têm, desde o seu nascimento, alguma deficiência física ou mental. E a sensação de não serem aceitas integralmente pelos pais, impede essas crianças de renderem tudo de que seriam capazes. Por exemplo, uma criança que tenha um retardo moderado, tem condições de aprender diversas tarefas, podendo, inclusive, tornar-se uma pessoa útil e com uma certa autonomia. Mas, se ela não é aceita pela família, devido às suas dificuldades, é muito provável que ela não consiga assimilar muito daquilo que seu potencial permitiria.

Acredito que só o pai ou a mãe, que tenha um filho com necessidades especiais, seja capaz de compreender, na íntegra, o sofrimento de outro pai ou mãe nas mesmas condições. E, naturalmente, esse sofrimento pode levar a atitudes de rejeição do filho, muitas vezes sem que os pais percebam, pois isso é algo não conscientizado, de uma maneira geral.

Sei muito bem que não é dizendo aos pais que é preciso aceitar os filhos para o próprio bem deles, que essa aceitação ocorrerá. Sei que isso representa, muitas vezes, uma cicatriz profunda e dolorosa, merecendo de nós todo o respeito e consideração. Mas, eu gostaria de dizer a esses pais que existem muitas pessoas que podem e querem ajudá-los. São pessoas treinadas, cuja formação favorece o desenvolvimento das crianças portadoras de alguma deficiência. Além disso, poderão se tornar aliadas dos pais na promoção do bem estar e da felicidade de seus filhos. Em outras palavras, eles não estão sozinhos em sua missão, por mais desafiadora que ela possa parecer-lhes.

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Falando de Psicologia … (34) – Portadores de deficiência: a aceitação e a família (I)

Portadores de deficiência: a aceitação e a família (I)

   Com o artigo de hoje quero expressar meu grande carinho por todas as pessoas portadoras de alguma deficiência. Vou focalizar a importância da aceitação da criança excepcional (ou especial), tomando como referência o ambiente familiar. Falarei, então, sobre o que é aceitação e o que significa criança excepcional.

Creio que seria melhor começar pela definição do que é uma criança excepcional. Existem dois conceitos para isso. Um deles, o conceito mais popular, considera excepcional apenas a criança com um retardo intelectual e físico. O outro, o conceito acadêmico, chama de excepcional toda criança que apresente qualquer perturbação – seja de ordem intelectual, física ou psicológica. Portanto, esse conceito é muito mais amplo e, dentro dele, o excepcional (termo alusivo a “exceção”) é tanto a criança com retardo mental, quanto aquela que possui uma inteligência muito acima da média. É também considerada excepcional toda criança que apresente algum impedimento físico ou sensorial – crianças paralíticas, crianças cegas, surdas, mudas etc. mesmo que sua inteligência seja normal. Da mesma forma, uma outra criança que apresente distúrbios de conduta, mas com a inteligência preservada, também é enquadrada no conceito de criança excepcional. Os distúrbios de conduta são bem variáveis. Assim, a criança enurética (que urina na cama após os seis anos, sem uma causa orgânica), criança muito agressiva, criança com sono agitado, com hábitos tais como: roer unha, chupar o dedo, são alguns exemplos que mostram o que seria distúrbio de conduta.

Agora vou passar ao outro tópico – o da aceitação da criança no seio da família. Devo esclarecer que toda vez que me referir ao excepcional, eu o estarei considerando dentro daquele sentido amplo, acadêmico.

Todos os pais desejam ter um filho livre de qualquer distúrbio. E, quando se vêem diante de uma criança com algum desses problemas que citei, isso é motivo de sofrimento para eles. E é muito compreensível esse sentimento. Muitas vezes a expectativa dos pais era tão grande em relação ao que seria seu (sua) filho(a), que eles simplesmente não se conformam quando se deparam com uma outra realidade. Podem surgir algumas atitudes que caracterizam uma não-aceitação da criança. Mas, o que é aceitação?

Aceitar uma pessoa é recebê-la integralmente. É ter consideração por ela, com as suas qualidades e limitações. Portanto, aceitar significa acolher alguém por inteiro.

O mais habitual entre as pessoas é aceitar uns e não aceitar outros. Às vezes, no mesmo grupo familiar, os pais revelam atitudes diferentes no contato com os filhos. Vamos imaginar uma família constituída pelo casal e dois filhos. Um deles é o que os pais sempre esperaram – responsável, obediente, educado, um ótimo aluno. O outro, com frequência, desobedece, é desordeiro, não vai bem na escola.

Este segundo menino do exemplo citado, de acordo com aquela definição acadêmica que vimos, seria considerado um menino excepcional. Da mesma forma, atitudes de não-aceitação ou rejeição podem ser encontradas numa família onde haja uma criança com retardo mental, com alguma deficiência de ordem física ou com algum distúrbio de comportamento. E essas crianças não são aceitas porque não correspondem às expectativas dos pais – de terem filhos sadios e ajustados em todos os sentidos.

A experiência de não ser aceita integralmente, sobretudo pelos pais, pode levar uma criança a não render tudo de que é capaz, acentuando ainda mais as suas dificuldades. Como esse assunto é muito amplo e complexo, voltarei a abordá-lo no próximo artigo, quando então comentarei as interfaces da aceitação familiar.

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Falando de Psicologia … (33) – Projetos afetivos para o Ano Novo.

Projetos afetivos para o Ano Novo

     Todo final de ano – bem como, o início de um novo ano – produzem, em muitos de nós, uma irresistível vontade de reavaliar umas tantas coisas, na vida… E nos relacionamentos acontece o mesmo. Sintetizando um assunto tão amplo, eu diria que há “regrinhas” (ou dicas) preciosas quando se busca um bom entendimento com alguém. Ressalto, logo de início, duas dicas inquestionáveis, quanto ao seu resultado. Sugiro que você:

Reserve tempo: para brincar, com leveza de sentimentos; para ler e escrever; para ouvir e ser ouvido; para rir (pois o riso é a “música da alma”); para chorar junto, se for o caso; para rezar, pois a oração é a melhor forma de nos conectarmos com Deus; para fazer uma boa autocrítica e tentar ser uma pessoa melhor – para si e para os outros; enfim, para amar e ser amado (a)…

Aquiete a mente para ouvir o coração (o próprio, e/ou o do outro…).

As duas recomendações valem para qualquer relacionamento:

  • Pais e filhos (de qualquer idade).
  • Filhos adultos e seus pais idosos.
  • Avós e netos.
  • Marido e mulher.
  • Amigos.
  • Irmãos, primos, sogros, genros, noras etc etc.
  • Professor e aluno.
  • Patrão e funcionário.
  • Homem e Deus.

Vale lembrar que “a ordem dos fatores não altera o produto” e que, de um modo geral, a “recíproca é verdadeira”…

Felizes relacionamentos em 2020 e em cada Ano Novo, para todos nós!!!

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Falando de Psicologia … (32) – Quando a criança é super cuidadosa

Quando a criança é super cuidadosa 

Não é raro encontrarmos crianças que são vistas pelos pais como “exemplares”, no que se refere ao asseio corporal e à conservação de seus objetos. Mesmo quando os pais encontram, na criança, traços de comportamento inadequado (medo, irritabilidade etc.) o fato de ser ela muito cuidadosa é visto como algo bastante positivo. Assim, se a criança mantém em absoluta ordem seus objetos escolares ou conserva suas roupas sempre impecáveis, muitos pais acham até que precisam incentivar tal comportamento.

Do ponto de vista psicológico, nem sempre podemos encarar as coisas dessa maneira. De um modo geral, a criança excessivamente cuidadosa é denominada criança obsessiva.

Vejamos alguns exemplos mais significativos do que seria uma criança obsessiva.

  • Criança que não admite a idéia de usar uma roupa com qualquer defeito, por menor que seja. Ou então, se molha um pouquinho a camisa, não concorda em esperar que seque – quer logo vestir outra.
  • Criança que é escrupulosa demais com tudo o que vai comer. Muitas vezes a criança “cisma” com determinado alimento (frango, por exemplo) e não o come de maneira alguma. Ou então, se encontra fragmentos de algo que ela não goste (cebola ou alho, por exemplo), para de comer na mesma hora. Outras vezes a criança resolve utilizar sempre o mesmo talher, ou o mesmo prato, criando o maior caso se a impedem de usá-los.
  • Criança que mantém seus objetos na mais perfeita ordem. Uma criança assim não admite que alguém mexa em suas coisas. Às vezes deixa de usar um determinado objeto (um brinquedo, ou um lápis, por exemplo), só para não ter de mudá-lo – seja com algum pequeno estrago, seja pelo gasto que advém do uso. Há casos em que a criança nem entra na escola se, ao chegar lá, notar que algum objeto está fora do lugar (dentro da mochila), ou se um determinado estojo ficou em casa.
  • Criança que tem um cuidado excessivo com o asseio corporal. Há crianças que não conseguem ficar com as mãos sujas, nem quando isso se faz necessário. Assim sendo, elas não participam de atividades que impliquem no uso de tintas, argila e outros materiais no gênero. Algumas têm verdadeira repulsa pelo contato com pessoas doentes. E o banho, então, passa a significar algo muito mais importante para elas. 

     Por que certas crianças são obsessivas?

De um modo geral, há duas razões principais para explicar tais atitudes. Ou a criança foi condicionada a isso pelos próprios pais, ou então é portadora de dificuldades emocionais que a levam a agir assim. Portanto, o convívio com pais muito exigentes quanto à ordem, à limpeza e à disciplina pode levar uma criança a se tornar supercuidadosa ou obsessiva.

Da mesma forma, isso pode ser uma decorrência de problemas emocionais. Assim, uma criança muito insegura poderia compensar essa insegurança através de um cuidado excessivo com seus pertences.

Mas, o que fazer, então, para ajudar uma criança obsessiva?

Em primeiro lugar, é preciso observar atentamente o comportamento geral da criança em questão. Ou seja, os pais devem observar alguns pontos muito importantes: se a criança tem se alimentado normalmente, se tem chorado com frequência, se tem dormido menos, se tem tido pesadelos com frequência, se está muito rebelde ou agressiva, se está arredia e tristonha, e assim por diante. Caso estejam presentes alguns desses elementos na conduta da criança, é indispensável que se procure um especialista, seja ele médico ou psicólogo.

De qualquer maneira, é recomendável que os pais façam o possível para tornar mais amena a vida de seus filhos, através de um dia a dia equilibrado e harmonioso.

 

 

 

 

Falando de Psicologia…(31) – Quando nossos filhos crescem…

Quando nossos filhos crescem… 

Hoje quero falar para os pais cujos filhos estão entrando na adolescência. É interessante observarmos que certas mudanças estão ocorrendo cada vez mais cedo. Por exemplo, meninos e meninas de menos de dez anos já se recusam a andar de mãos dadas com os pais. Em certas ocasiões já não se despedem deles com beijinhos, principalmente se estão perto dos colegas. Quase sempre preferem fazer programas com os amigos, ao invés de sair com os familiares. E os pais se ressentem, sobretudo aqueles mais afetuosos ou mais sensíveis.

Por que ocorrem essas mudanças?

Se pararmos para analisar o momento que estamos vivendo hoje, fica mais fácil entender alguns conflitos presentes em certos lares. A começar pelo acesso à tecnologia eletrônica: o número de crianças e adolescentes que possuem celular e notebook (ou mesmo tablet), é cada vez maior, independente de sua condição socioeconômica. Isso é ótimo, mas ao mesmo tempo pode se tornar prejudicial, na medida em que proporcione uma ideia de autonomia, antes da obtenção do verdadeiro amadurecimento emocional. Por outro lado, muitos adultos e crianças passam o dia todo ocupados com diversas atividades. Quando se encontram, geralmente à noite, estão cansados e sem disposição para o diálogo. O dia termina e vão todos dormir sem buscar um entendimento, sem um entrosamento mais satisfatório. No dia seguinte nova jornada de trabalho ou estudos tem início, onde a falta de tempo para interagir vai se tornando cada vez mais frequente. Meninos e meninas tomam conhecimento de informações nacionais e internacionais, conversam entre si o dia todo (via celular ou internet) e fica parecendo que ter atitude de criança seria algo indesejável até mesmo para quem ainda é, realmente, uma criança. Ou seja, os meninos e meninas têm se mostrado muito precoces, no que se refere às características próprias de quem já entrou na adolescência. Muitas vezes o desenvolvimento físico ainda é o de uma criança, mas os anseios de maior liberdade e as atitudes contestatórias já lembram mais o perfil de um jovem rebelde.

O que fazer, nesses casos?

Bem, por incrível que pareça, as recomendações são velhas conhecidas de todos os pais. Nós, psicólogos, pedimos sempre que se busque o diálogo, onde se acertam possíveis divergências e, principalmente, possíveis desencontros. É muito importante que haja aceitação e muita calma, pois tudo isso vai passar, dando lugar a posturas mais adequadas.

Como sugestões de ordem prática, podemos citar:

  • Encarar as atitudes contraditórias com tranquilidade, sem recriminações que possam provocar sentimentos de culpa no(a) filho(a).
  • Evitar excesso de conselhos, críticas ou “sermões” moralistas.
  • Valorizar o bom comportamento do(a) filho(a) através de elogios e estímulos.
  • Ser firme na colocação de limites, mas sem autoritarismo.
  • Enfim, ser compreensivo e amoroso, entendendo que todo indivíduo precisa encontrar a sua identidade e consequente autonomia.

 

 

Falando de Psicologia … (30) – Recado a certos pais.

 

Recado a certos pais

      Alguns pais se queixam da não participação do(a) parceiro(a) na educação dos filhos. De um modo geral, são as mães que reclamam da ausência do marido na rotina das crianças. A falta de tempo é o motivo mais alegado por eles, mas tenho observado que existem traços que se repetem na hora de construirmos o perfil destes pais (ou mães, em alguns casos).

Durante uma conversa – em clima de orientação psicológica – verifico que não se trata de falta de amor pelos filhos, ou de falta de compromisso com os mesmos. Algumas pessoas (pais ou mães) sentem grande dificuldade em expressar sentimentos, seja na hora de um diálogo, seja na hora de estabelecer um contato físico com os filhos. Para facilitar o entendimento, vou citar possíveis ocorrências que prejudicam o desenrolar de uma conversa. Por exemplo:

  • Não prestar atenção ao que o(a) filho(a) está falando.
  • Não ouvir “com o coração”. Ou seja, ouvir apenas com o lado racional, sem estar antenado ou sintonizado com os sentimentos e necessidades do(a) filho(a).
  • Adotar uma postura de autoritarismo na hora em que o filho se abre, perdendo uma boa oportunidade de se mostrar mais companheiro(a) do(a) filho(a).
  • Citar exemplos de sua própria infância, como se o(a) filho(a) tivesse que seguir seu modelo.
  • Ouvir com impaciência e de olho no relógio.
  • Aproveitar para “passar um sermão” no(a) filho(a).

Outro ponto comum refere-se à pouca disponibilidade para atender aos anseios do(a) filho(a):

  • Não comparecer aos jogos em que o(a) filho(a) compete, ou a recitais de música (piano, flauta, balé, canto etc).
  • Não levar o(a) filho(a) a festas ou reuniões de grupo promovidas pela escola.
  • Não comparecer às reuniões de pais marcadas pela escola do(a) filho(a).
  • Não ajudar o(a) filho(a) nos trabalhos escolares que demandam a participação dos pais.
  • Não levar o(a) filho(a) a algum tratamento de que necessite (odontológico, médico ou psicológico).

Isso é mais comum entre os filhos de pais separados. Quem fica com a guarda (geralmente a mãe) fica, também, com os deveres, enquanto o outro fica com os momentos de lazer. Também aqui podemos listar alguns traços que caracterizam tais adultos: excesso de envolvimento com o trabalho, tentativa de suprir as necessidades do filho através de dinheiro ou presentes, hábito de transferir para outras pessoas a “tarefa” de conviver com o(a) filho(a) etc. etc.

Diante do que foi exposto, creio que seja fácil fazer uma autoanálise e evitar tudo aquilo que possa prejudicar o bom relacionamento entre pais e filhos.

 

Falando de Psicologia … (29) – Quando uma criança gosta de brincar com fogo (II)

Quando uma criança gosta de brincar com fogo (II) 

      No artigo anterior vimos o que pode levar uma criança a querer brincar com fogo, com destaque para três características básicas: curiosidade, imitação e necessidade de chamar a atenção sobre si. Nesse artigo falarei sobre certas implicações psicológicas e maneiras de ajudar a criança que se sente muito atraída pelo fogo. O essencial, em qualquer situação, é que a criança esteja livre de perigos para os quais ainda não está preparada. Para isso, ela deve contar com a supervisão eficiente de seus pais (ou demais familiares). Porém, não basta evitar os acidentes. Existem casos em que a atração pelo fogo tem um sentido muito mais amplo que o aparente. É preciso observar em que circunstâncias a criança se utiliza do fogo – frequência com que o faz, episódios do dia que estariam relacionados com a ocorrência, quaisquer experiências desagradáveis que ela porventura tenha vivido ( se levou uma surra, se foi severamente criticada, se sofreu humilhações) e assim por diante.

Muitas vezes, a criança apresenta problemas emocionais (leves ou intensos) que dificultam seu controle, mesmo sabendo dos perigos de uma brincadeira com fogo. Assim, uma criança muito rebelde, ou muito agressiva, ou com um forte sentimento de inferioridade, pode ter um impulso de atear fogo bem mais acentuado que o de outras crianças. E nesse caso, o ato de queimar alguma coisa teria um outro significado, bem mais sério (forte impulso destrutivo, necessidade exagerada de chamar atenção, revolta e ressentimentos mais profundos). Geralmente, as crianças que se enquadram nessa categoria apresentam distúrbios de comportamento que os pais podem identificar com relativa facilidade: inapetência, irritabilidade, insônia (ou sono agitado), enurese que se prolonga após os cinco anos, dificuldades no seu relacionamento, além de outros indícios de que algo não vai bem.

Um desses distúrbios (ou mais de um), acrescido de um impulso de atear fogo que não desaparece com as medidas habituais, pode mostrar o quanto uma determinada criança está desajustada. Certamente, uma ajuda especializada se faz necessária.

O que fazer, então, quando a criança insiste em brincar com fogo? 

Proibir, castigar ou fazer ameaças são medidas que muitas pessoas utilizam, mas nem sempre os resultados são satisfatórios. Darei, a seguir, algumas sugestões de ordem prática. Devo esclarecer que vou me basear na opinião de alguns autores e na vivência que tenho tido, ao desempenhar minhas funções de mãe (e avó) e de profissional que sempre lidou com crianças dia após dia, ao longo de muitos anos de formada em Psicologia e atuando de forma ininterrupta.

Alguns exemplos de experiências positivas (e vigiadas), que os pais podem proporcionar à criança (quando a atração pelo fogo não é exagerada):

  • Ajudar a acender o fogão (a criança precisa adquirir noção de perigo e, gradativamente, ir alcançando mais autonomia).
  • Acender velas quando for necessário (quando faltar energia elétrica ou quando se queira acender as velinhas de um bolo de aniversário, ou quando se usam velas durante um momento de oração em família).
  • Ajudar a queimar uma pequena quantidade de folhas secas (ao ar livre, naturalmente).
  • Ao invés de esconder os fósforos, orientar a criança sobre os perigos de se brincar com fogo e capacitá-la de tal forma que ela saiba o que está fazendo e sinta prazer em colaborar com os pais, através do respeito aos limites por eles estabelecidos.

Enfim, se os pais perceberem que seu filho (ou filha) está precisando de mais presença e maior compreensão, seria desejável que se repensasse o quanto ainda se pode investir na qualidade de vida dessa família. E, mais uma vez, solidificar os laços afetivos tão necessários ao equilíbrio de todos e de cada um de seus membros…

 

 

 

 

Falando de Psicologia … (28) – Quando uma criança gosta de brincar com fogo (I)

Quando uma criança gosta de brincar com fogo (I)

     Uma senhora está bastante preocupada com o filho porque este aprecia certas brincadeiras relacionadas com fogo (riscar fósforos, mexer no fogão, acender velas e queimar papéis). Ela já tentou impedi-lo de fazer isso, mostrando o lado perigoso de tais brincadeiras. Como não obteve resultado com essa medida, tentou outras, como: esconder todas as caixas de fósforos, repreender severamente a criança e aplicar castigos diversos. Nada disso adiantou.

     Ela pergunta, então: “É normal uma criança gostar tanto assim de brincar com fogo?” 

Não se trata de dizer se é “normal” ou não. Até certo ponto, é perfeitamente aceitável esse interesse pelo fogo. Em alguns casos, porém, a brincadeira com fogo é mais um sinal de que algo não vai bem com a criança. Vou mostrar essas duas possibilidades, analisando os seguintes pontos:

  1. O que leva uma criança a se interessar pelo fogo.
  2. Quando a brincadeira com fogo é sinal de problema psicológico.
  3. Como agir, no sentido de ajudar a criança e, ao mesmo tempo, diminuir a preocupação dos pais.

Já se observou que muitas crianças, no período que vai dos três aos seis anos, costumam sentir uma forte atração pelo fogo. Assim, pegam toda caixa de fósforos que encontram, não só para riscá-los, como também para atear fogo em muitos objetos. Algumas chegam a provocar verdadeiros incêndios, a partir de uma brincadeira com fósforos. Não resta a menor dúvida de que o risco de acidentes existe sempre e que os pais têm razão em se preocupar com o fato.

Mas, constatar que é comum a criança gostar de brincar com fogo, e que isso é perigoso para ela e para as outras pessoas, não é o que nos interessa aqui. O importante é procurarmos compreender o que leva uma criança a atear fogo em alguma coisa, para sabermos como agir, conforme cada situação.

             O que leva uma criança a se interessar pelo fogo?

Se considerarmos a curiosidade natural de uma criança, veremos que é perfeitamente aceitável que o fogo desperte nela o mesmo interesse que a água, a terra ou a areia, os brinquedos novos e os lugares diferentes. Uma criança geralmente aprecia essas coisas, como sabemos. Aliás, ela precisa conhecer tudo aquilo que esteja ao seu alcance. E nesse sentido, a curiosidade é um fator natural e favorável ao desenvolvimento de qualquer criança.

Além desse fator, existe um outro que também explica a atração pelo fogo. Trata-se da imitação. Ou seja, as crianças (sobretudo as mais novas) mostram uma tendência acentuada a imitar as pessoas de seu convívio. Ora, no contato diário com os adultos, uma criança comum pode ver, a todo instante, como eles se utilizam do fogo – para cozinhar, para acender cigarros (infelizmente ainda é grande o número de fumantes) ou até mesmo para acender as velinhas de um bolo de aniversário…

Como podemos esperar que seja fácil, para uma criança, privar-se de uma experiência que a faz parecer com o adulto?

Já que estamos falando em características da infância (curiosidade e tendência à imitação) não podemos nos esquecer da necessidade de chamar atenção. Essa é, também, uma característica que pode levar uma criança a se interessar pelas brincadeiras com fogo.

Mas, chamar atenção através de uma brincadeira com fogo nem sempre é algo tão natural e aceitável. É isso que veremos no próximo artigo (implicações psicológicas e maneiras de ajudar uma criança que aprecia brincadeiras com fogo).