A criança e a fé
A Bíblia nos ensina, em Hebreus, capítulo 11, versículos 1 e 3: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível”.
E o que dizer da fé infantil?
Em seu livro “Fé e vida crescem juntas”, Íris M. Boff Serbena nos mostra como evolui a fé da criança. Também outros autores, como James W. Fowler (“Estágios da fé”) e Sofia Cavalletti (“O potencial religioso da criança”) nos fornecem subsídios valiosos para compreendermos o desenvolvimento da criança na sua maneira de se relacionar com Deus.
Vejamos os conceitos de fé do ponto de vista psicológico.
Até os seis anos, Deus é percebido pela criança mais pelo afeto do que pelo intelecto, através das experiências de amor, confiança e aceitação. A confiança que os filhos depositam nos pais projeta-se para Deus, nascendo daí a linguagem da fé. Ou seja, a imagem de Deus vai sendo construída, aos poucos, pelos elementos fornecidos pelos adultos.
Muito antes de a criança ser capaz de discernir claramente os valores e crenças dos pais, ela sente a coerência entre o que eles ensinam e o que eles fazem. Daí a importância da confiança que se desperta e se mantém, desde cedo. Assim, a criança pequena atribui, aos pais, um poder que ultrapassa seus limites humanos. Cabe a eles a tarefa de auxiliar cada filho na transposição da fé humana para a fé divina. Isso ocorre, sobretudo, por meio do exemplo e da vivência religiosa. Ou seja, se os pais e outros adultos de seu relacionamento confiam em Deus, a criança passa a confiar nele.
Durante muito tempo a criança vivencia uma fé antropomórfica, imaginando Deus em forma de pessoa. Evidentemente, a maneira como ela percebe seus pais vai influenciar, e muito, a imagem que poderá ter, de Deus. Além disso, muitos estímulos devem ser oferecidos para que a fé se desenvolva a partir das necessidades infantis. Por exemplo, quando uma criança, antes de dormir, pede a seus pais que lhe contem uma história, o que ela quer, na verdade, é tê-los ao seu lado, naquele momento, para poder adormecer tranqüila e segura. O mesmo se pode dizer da oração e dos ensinamentos bíblicos. Dependendo de certas atitudes dos pais, a fé da criança ficará reforçada, ou não, em função do grau de proximidade criado, seja em qualquer hora do dia ou da noite, gerando sentimentos que certamente ficarão gravados por muito tempo…
No que se refere aos textos bíblicos, os adultos podem escolher narrativas que inspirem muita confiança e que apresentem a imagem de um Deus que está próximo, que é amigo, que ama, acolhe e perdoa. O sofrimento e o mal podem e até devem ser abordados, mas de modo a auxiliar a criança a trabalhar seus próprios conflitos, medos e tensões. O importante é que se tenha um cuidado teológico e psicopedagógico, levando em consideração a mensagem que se quer transmitir, dentro da perspectiva da criança (ou seja, respeitando-se a faixa etária, a maturidade e o contexto vivido por ela).
Podemos concluir que os primeiros e principais responsáveis pela fé das crianças são seus pais.
Em síntese, como as famílias podem transmitir a fé a seus filhos?
- Pelo testemunho da fé (pelo amor e respeito entre os pais e em relação às outras pessoas).
- Pela Palavra: “A Palavra de Deus adquire sentido concreto quando se torna realidade na pessoa humana” (São João Paulo II).
A Bíblia é indispensável na catequese em família.
- Pela espiritualidade (cultivando os desejos da oração, da escuta e da Palavra, da liturgia, da fraternidade).
Gostaria de finalizar esse artigo lembrando outra citação bíblica: “Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não se há de afastar” (Pr 22,6).