Falando de Psicologia – (35) – Portadores de deficiência: a aceitação e a família (II)

Portadores de deficiência: a aceitação e a família (II) 

     No artigo anterior tive oportunidade de conceituar aceitação e criança excepcional (ou portadora de necessidades especiais, ou então, portadora de deficiência). Hoje comentarei alguns aspectos da aceitação familiar.

Como se manifestam a aceitação e a não-aceitação de uma criança?

Uma família que esconde um filho portador de necessidades especiais, não o aceita. Da mesma forma, se a família que se envergonha desse filho, isso é sinal de que ela também não o aceita.

Esses são exemplos de não-aceitação ou rejeição. Mas, a família que deseja que o filho seja mantido em instituições e que ele passe pouco tempo em seu meio, também o está rejeitando. Quando os pais castigam um filho simplesmente porque urina na cama, ou o ridicularizam porque não sabe pronunciar bem as palavras, também estão dando mostras de que não o aceitam tal como ele é, com suas habilidades e com suas limitações. Quando os pais não sabem ouvir pacientemente o que o filho está tentando dizer, achando que ouvir uma criança que lhes dá trabalho é perda de tempo, é sinal de que eles não aceitam o papel de pais, no seu sentido mais elevado.

Qual a importância da aceitação, por parte dos pais, para o futuro de uma criança?

Um dos maiores avanços da Psicologia e da Psiquiatria nas últimas décadas, foi a demonstração da importância do cuidado que os pais dispensam aos filhos, nos primeiros anos de vida, para a sua saúde mental futura. Já se verificou que é essencial para a manutenção do equilíbrio emocional, que a criança experimente um contato caloroso, íntimo e contínuo com sua mãe, no qual tanto a criança como a mãe encontrem satisfação e bem estar. Quando uma criança não vivencia isso com sua mãe ou com outra pessoa que a substitua, dizemos que essa criança tem uma privação do carinho materno.

Existem vários estudos comprovando os efeitos dessa privação sobre a criança. Mostrou-se, entre outras coisas, que o desenvolvimento dessas crianças é quase sempre mais demorado – seja do ponto de vista físico, intelectual ou social – e que sintomas de doença física ou mental podem aparecer; quero dizer, a criança torna-se mais vulnerável às enfermidades, de uma maneira geral; rende aquém de suas possibilidades intelectuais; ajusta-se pouco aos outros.

Ao considerar tal afirmativa, nós precisamos nos lembrar de que muitas crianças já têm, desde o seu nascimento, alguma deficiência física ou mental. E a sensação de não serem aceitas integralmente pelos pais, impede essas crianças de renderem tudo de que seriam capazes. Por exemplo, uma criança que tenha um retardo moderado, tem condições de aprender diversas tarefas, podendo, inclusive, tornar-se uma pessoa útil e com uma certa autonomia. Mas, se ela não é aceita pela família, devido às suas dificuldades, é muito provável que ela não consiga assimilar muito daquilo que seu potencial permitiria.

Acredito que só o pai ou a mãe, que tenha um filho com necessidades especiais, seja capaz de compreender, na íntegra, o sofrimento de outro pai ou mãe nas mesmas condições. E, naturalmente, esse sofrimento pode levar a atitudes de rejeição do filho, muitas vezes sem que os pais percebam, pois isso é algo não conscientizado, de uma maneira geral.

Sei muito bem que não é dizendo aos pais que é preciso aceitar os filhos para o próprio bem deles, que essa aceitação ocorrerá. Sei que isso representa, muitas vezes, uma cicatriz profunda e dolorosa, merecendo de nós todo o respeito e consideração. Mas, eu gostaria de dizer a esses pais que existem muitas pessoas que podem e querem ajudá-los. São pessoas treinadas, cuja formação favorece o desenvolvimento das crianças portadoras de alguma deficiência. Além disso, poderão se tornar aliadas dos pais na promoção do bem estar e da felicidade de seus filhos. Em outras palavras, eles não estão sozinhos em sua missão, por mais desafiadora que ela possa parecer-lhes.

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