Quando os irmãos brigam
A briga entre irmãos sempre ocorreu, em qualquer família e em todas as gerações. Aliás, já foi tema de inúmeras obras de literatura e aparece até mesmo na Bíblia (Caim e Abel, dentre outros exemplos).
Quando as crianças brigam, é natural que os pais se mostrem preocupados e queiram saber como agir. Daí a importância de se saber o que há por trás das brigas infantis. Se considerarmos que são uma decorrência da agressividade, temos que levar em conta alguns fatores:
_ o que é agressividade;
_ quando é que aparece;
_ por que aparece.
Segundo Freud, “a agressão é uma característica universal e necessária. Sem ela, o indivíduo seria incapaz de competir em um meio indiferente e hostil e assegurar as condições essenciais de existência. Jamais poderá ser ela eliminada da sociedade humana e, pelos seus valores positivos, tampouco é desejável que ocorra”. Em termos mais simples, a agressividade seria uma reação própria do ser humano em determinadas circunstâncias, principalmente se ele é impedido de fazer algo que lhe agrada. Portanto, a agressividade é uma das formas de reagir às frustrações.
Quando e por que uma criança se mostra agressiva?
As tendências agressivas são mais evidentes após um ano de idade e costumam ser mais precoces e intensas no sexo masculino. Entre os três e seis anos muitas crianças demonstram maior agressividade, o que propicia o aumento das brigas. E isso se explica pelo fato de que a criança não pode fazer tudo o que quer e ainda não dispõe de senso crítico para saber se está certa ou errada. Ela simplesmente precisa se opor para mostrar que também é gente, que também tem opinião.Há uma grande necessidade de auto-afirmação, de independência. Além disso, há outras causas da agressividade infantil: frustração, ciúme de um irmão, necessidade de chamar atenção, insegurança, sentimento de rejeição, criança superprotegida etc. Seja qual for a origem da agressividade, é necessário permitir a sua manifestação. Porque é exprimindo sentimentos – no caso, sentimentos hostis – que a criança vai se firmando como pessoa. Tal expressão dá a ela uma segurança crescente de sua existência como ser único, que “sente”, que “vive”, que “respira”, que “tem raiva”, que “ama”, enfim, que existe. Esta experiência de individualidade e de valor pessoal é muito importante para um desenvolvimento sadio. A família propicia a segurança para essa expressão, o que não se consegue fora. A criança sabe, de algum modo, que pode brigar com o irmão, pois alguém a defenderá de algum desastre. Ela sabe que os pais poderão intervir em caso de excesso. Além disso, já experimentou sentimentos de afeto pelo irmão e já recebeu manifestações de afeto dele. Isso dá a ela a confiança de que, embora brigando, existem poucos riscos de se machucar, realmente.
Pessoas afirmativas, seguras, confiantes, surgem quando, em criança, têm como expressar seus sentimentos, sejam de afeto, sejam de agressividade. E, ao contrário, pessoas tímidas, desconfiadas, que não acreditam em si mesmas, podem surgir quando, em criança, são impedidas de identificar e expressar os próprios sentimentos, pois não tiveram oportunidade de descobrir o que existe dentro delas.
Mas, a briga entre irmãos é sempre benéfica?
Não, existem condições em que ela pode ser prejudicial.
É o caso, por exemplo, de se permitir que as crianças cheguem a se machucar. Isso não é bom para ambas. Para a que se machucou, porque ela pode desenvolver medo de brigar das próximas vezes e ser levada a conter seus impulsos agressivos. Para a agressora, porque ela pode sentir-se culpada. Se isso acontece uma ou duas vezes e se o dano físico não é grande, não existem maiores consequências para uma ou outra. Mas, se o episódio se repete com frequência, então os riscos de que as duas crianças se prejudiquem é evidente.
Uma outra situação indesejável é quando as brigas transcorrem num clima de dominação de uma criança e submissão da outra, terminando com a primeira impondo-se sempre à segunda. A criança dominadora pode tornar-se exigente, intransigente e ter dificuldade de se adaptar a outras crianças. A criança dominada não desenvolve a iniciativa e a autoconfiança.
Também é ruim quando os pais interferem muito nas brigas. Como há sempre alguma diferença de idade, a criança menor pode julgar que os pais não acreditam nela, na sua capacidade de se defender; e essa suspeita pode desenvolver, na maior, um sentimento de que é “má”, pois está fazendo algo que os pais reprovam.
Em resumo, as brigas infantis podem ser uma ocorrência normal e até importante para o desenvolvimento de uma personalidade sadia. Cabe aos pais ter o discernimento e o bom senso necessários para saber como ajudar cada filho.