Quando os filhos “escravizam” suas mães
Frequentemente sou procurada por mães que se declaram esgotadas, de tanto lutar para acabar com certas “manias” dos filhos. Elas se referem à dificuldade em torná-los pontuais e organizados. E isso parece ainda mais evidente quando envolve questões escolares (horário para estudar, cuidados com o material) e hábitos de higiene. As mães se desdobram, mas com pouco resultado.
Por que certas crianças “escravizam” as mães?
As razões costumam variar bastante. Vão desde uma falta de disciplina comum, até problemas psicológicos na criança.
Assim, uma criança pode ser desorganizada porque não aprendeu a cuidar do que é seu. Da mesma forma, uma outra criança pode ter dificuldades emocionais que a impedem de aproveitar os ensinamentos dos pais.
Vejamos com maiores detalhes as causas desses comportamentos.
- Falta de disciplina. A criança não foi devidamente orientada pelos pais e, então, mostra-se desorganizada ou impontual, ou com algum outro tipo de comportamento indesejável.
A disciplina, dependendo da forma com que é aplicada, pode provocar um efeito negativo sobre a criança. Isso geralmente ocorre quando os pais enfatizam sua reação à falta cometida (isto é, sua irritação, desânimo, raiva, decepção diante da conduta do filho), desestimulando a criança a mudar de atitude. Seria bom que os pais mostrassem as vantagens de uma determinada maneira de agir. Mas, com grande dose de paciência e compreensão, sem os castigos ou humilhações que fazem a criança sentir-se culpada ou revoltada.
- Idade da criança. Pode não estar ao alcance da criança compreender a importância da ordem e dos horários, e como mantê-los. Por exemplo, exigir que uma criança de seis anos arrume todo o seu material escolar, bem como se responsabilize pelos deveres de casa sem a supervisão de um adulto, pode ser algo que, ao invés de proveitoso, acabe por prejudicá-la. De modo análogo, não se pode esperar que uma criança muito nova saiba respeitar os horários das refeições. Para ela, o que conta é seu apetite, ou a atração que certas guloseimas provocam. A orientação – tanto materna, quanto paterna – é essencial para promover bons hábitos na criança, sobretudo os que se referem à higiene pessoal, alimentação e estudos.
- Imitação. Certos pais costumam exigir que a criança faça certas coisas que eles próprios não fazem. É o caso, por exemplo, da criança que nunca vai para a mesa quando a refeição é servida, mas só depois que esfria. A mãe fica irritada com o filho, mas nem sempre percebe que ele está apenas seguindo o “exemplo” do pai, que por sua vez sempre chega atrasado.
- Prêmios que a criança recebe. Assim como os castigos, também as recompensas têm seu lado negativo. Quando os pais dão prêmios para a criança ficar quieta ou não fazer desordem, ela pode usar dos mesmos comportamentos indesejáveis para obter novas vantagens. Por exemplo, algumas crianças começam a fazer “bagunça” de propósito, só para que os pais prometam algum presente que as faça desistir de continuar com a desordem que iniciaram.
- A criança não aprendeu a distinguir o certo do errado. De um modo geral, isso ocorre quando os pais são instáveis, inconstantes ou contraditórios. Usando ainda aquele exemplo da criança que se atrasa na hora das refeições, podemos supor que ela não se habituou a respeitar o horário porque seus pais não souberam como orientá-la.
Assim, se a mãe (ou o pai) se mostra tolerante num dia, com o mesmo comportamento que provocou grande irritação na véspera, é de se esperar que o filho fique confuso. Certamente, os problemas de disciplina surgirão.
- Problemas psicológicos da criança. Pode ocorrer que a criança tenha capacidade para agir corretamente, mas não o faça por ser portadora de problemas emocionais. Assim, uma criança muito agressiva ou muito rebelde, pode ter sérias dificuldades na execução de uma tarefa, por mais simples que seja. Como, por exemplo, guardar seus objetos sempre no mesmo lugar.
Em linhas gerais, essas são as causas que quase sempre estão por trás de um comportamento indesejável.
É fácil concluir que, da mesma forma que uma criança precisa ser livre e receber estímulos que a tornem independente, deve também ser preparada pelos pais a fazer bom uso dessa liberdade. Portanto, não se trata de excesso de autonomia ou de excesso de restrições. Mas de um meio termo, onde coexistam atitudes de aprovação e de repreensão, de carinho e de colocação de limites, para que a criança possa assimilar, através dos pais, um modo equilibrado de agir e de se comportar, de acordo com as exigências de cada situação.