Arquivo | fevereiro 2019

Falando sobre Psicologia…(19) – Quando os pais se sentem culpados

 

Quando os pais se sentem culpados 

Qualquer pessoa pode experimentar sentimento de culpa em certas circunstâncias. Trabalhando como psicoterapeuta durante décadas, pude observar que muitos pais, de gerações diferentes, estão sujeitos a sofrer com a culpa em relação aos filhos. E isso acaba interferindo na hora de colocar limites. Ocorre certa confusão entre permissividade e manifestação de afeto. Ou seja, permitindo tudo aos filhos, certos pais acreditam que conseguirão estabelecer um vínculo afetivo maior, mais significativo. Mas se esquecem de que a incapacidade de dizer “não”, ou os sentimentos de culpa associados à ausência de limites, são tão nocivos quanto o autoritarismo, na medida em que provocam uma dificuldade de adaptação social. Uma criança que cresce sem limites não tolera a espera, é incapaz de ceder quando se trata da satisfação de suas necessidades, não convive bem com as frustrações e não aceita que as coisas não funcionem do seu jeito. Se pararmos para pensar sobre isso, vamos verificar que tais crianças dizem “não” com muita facilidade, enquanto seus pais relutam em fazê-lo. Recusam-se a obedecer em suas atividades diárias, como por exemplo: na hora do banho, na hora das refeições, na hora de ir para a escola ou de fazer as lições de casa. É importante lembrar que ninguém nasce com o perfil de um tirano. As condições ambientais podem transformar uma criancinha inocente em alguém extremamente rebelde e insatisfeito, não só na infância, como também na adolescência e até mesmo na idade adulta.

A dificuldade em dizer “não” e estabelecer limites, muitas vezes está diretamente ligada ao sentimento de culpa que os pais experimentam por se ausentarem de casa, passando o dia todo envolvidos com seu trabalho ou com outras atividades. Quando se encontram com os filhos, querem compensar tal ausência por uma permissividade que desconhece o bom senso e a adequação. Alguns até almoçam em casa, mas se mostram incapazes de dar uma boa orientação. Assim, se o filho pede algo, eles interrompem uma atividade (como assistir um noticiário na TV, por exemplo), agindo como se o desejo do filho fosse uma prioridade absoluta.

Para tentar ajudar esses pais, vou citar alguns elementos que devem ser lembrados.

Nesse momento quero me dirigir a eles com o maior respeito e carinho, pois é grande o sofrimento de quem experimenta sentimento de culpa e ainda precisa ter energia e discernimento para exercer uma profissão. Portanto, pais:

  • Não tenham medo de exercer sua autoridade. Lembrem-se de que os limites, quando colocados de forma justa e coerente, podem ser até mesmo terapêuticos.
  •  Ninguém precisa ficar fisicamente junto 24 horas por dia, para ter uma relação autêntica e feliz.
  • Reavaliem sua disponibilidade de tempo, pois não é saudável se sacrificarem com uma carga horária de trabalho que comprometa seu tempo livre para dedicar aos filhos.
  • A educação de nossos filhos deve ter como objetivo fundamental o desenvolvimento de pessoas responsáveis, maduras e autônomas.