O hábito, nem sempre infantil, de roer unhas…
Ao roer unhas, uma pessoa pode estar em busca de um alívio para suas tensões emocionais. Mas, o que dizer da criança que tem esse comportamento? Vou examinar o assunto sob três aspectos.
1. O ato de roer unhas, na infância, pode ser algo natural?
Sim, mas nem sempre. Se uma criança, ainda bem pequena, começou a roer unhas apenas por imitação (ao ver alguém da família fazer isso), não podemos dizer que só esse fato seja sinal de algum problema. Sabemos que a tendência de qualquer criança é repetir aquilo que lhe causa prazer, mesmo que isso a prejudique (por exemplo, ela pode comer todos os bombons de uma caixa no mesmo dia, só porque acha gostoso comê-los). Assim, a criança pode até achar divertido cortar as unhas com os próprios dentes, sem que exista algo sério por trás desse comportamento. É bem provável que uma ocupação que a agrade (brincar na areia, brincar com argila ou com qualquer outra coisa que ocupe suas mãos) venha substituir aquela “brincadeira” de roer unhas.
Quanto ao aspecto negativo do ato de roer unhas, prefiro mostrar isso no tópico seguinte.
2. Por que nem todas as crianças roem unhas?
O que justifica essa variação é a diferença que existe de uma criança para outra, ao longo do processo evolutivo. Como seu desenvolvimento (físico, intelectual e emocional) está ligado a uma série de fatores – constitucionais, (isto é, próprios da criança) e ambientais, (isto é, tudo aquilo que ela recebe do meio exterior) – podemos esperar vários padrões de comportamento. Mas, de um modo geral, já se observou que o ato de roer unhas aparece, em certas crianças, por volta dos três anos de idade. Dependendo das circunstâncias, esse ato pode desaparecer naturalmente com o tempo, tal como já foi visto no tópico anterior. Mas, aqueles fatores a que me referi podem facilitar ou impedir o desaparecimento do ato de roer unhas. Vou dar um exemplo, para ficar mais claro.
Uma criança, inteiramente normal quanto ao seu desenvolvimento físico e mental, é duramente castigada quando rói unhas. Porém, ela continua a fazê-lo e com uma frequência cada vez maior. Bem, num caso desses, o que podia ter sido uma conduta sem importância e de pequena duração no início, pode ter se transformado num meio de aliviar a tensão produzida pelo medo aos castigos. E um círculo vicioso se instala: quanto maior a tensão, maior a necessidade de buscar um alívio para ela, isto é, maior a necessidade de roer unhas.
Na maioria das vezes, o ato de roer unhas está ligado à existência de tensão psicológica.
Assim, um estudante que se preocupa demais com seu sucesso como aluno, pode roer unhas com muito mais intensidade por ocasião das provas. Isso significa que tal ato, além de proporcionar um alívio da tensão psicológica, pode ser uma espécie de reação a qualquer perigo iminente (seja de fracasso nos estudos, de ser castigado, ou qualquer outro exemplo semelhante).
3. Quais as medidas que favorecem o abandono de um ato como esse?
No que se refere aos pais, eles poderiam:
· Evitar castigos e repreensões, pois tal atitude, em geral, tem efeito negativo.
· Não mostrar expectativa de que a criança deixe, de uma hora para outra, o ato de roer unhas. Isso porque, abandonar um comportamento como esse, de forma súbita, é uma tarefa muito pesada para ela. É preferível estimular a criança aos poucos. Estimulá-la, por exemplo, a passar a metade de um dia sem roê-las. Depois um dia inteiro. Depois dois dias, uma semana, um mês etc. Pequenas etapas estão mais ao alcance da criança.
· Recorrer à ajuda de um especialista em problemas emocionais na criança, quando tal medida não der resultado. A presença de grandes dificuldades emocionais pode tornar o ato rebelde e de difícil extinção através do estímulo dos pais, apenas. O especialista terá mais recursos de atuar na raiz das dificuldades, trabalhando a tensão e, como consequência, o hábito de roer unhas.